Rubens Scapone
A ideia de um amor perfeito é uma ilusão,não existe perfeição no sentimento contraditório e sem consequências
simples
Envolto em teu silêncio minha alma procura
Grandes palavras, versos que vençam o tempo
E que destrua o que não convenço
Esse amor aquecido de sonho e loucura.
Rastreando tua sombra meu coração voa
Sobre teu jardim de mistérios, enquanto
A razão busca afastar de mim teu encanto
Meu sentimento luta e o amor ecoa...
Linda flor que o meu coração cura
Aroma do mais puro sentimento
Eterna deusa em meu pensamento
Doce imagem de uma visão futura...
Teu imagem me ergue e perdoa
Todo erro e desencanto
E faz alegria, do meu simples pranto,
Ìgnia flor que a razão destoa...
A lenda do sacrifício
Muda-se o tempo, os corpos mas nunca a máscara, a mentira ainda produz seus monstros visíveis ou não. Hoje, já não caminho pelas estradas da tentativa, analiso, reflito e constato apenas, me desgarrei de qualquer expectativa que alimente meus desejos. Nesse jogo injusto de xadrez, tento não ser peça, mas apenas, quem move o jogo para uma direção mais justa. Engraçado como o discurso da multidão ecoa e causa grandes danos sem que percebamos seus efeitos colaterais. De algum modo ainda rastejamos para a margem errada da solução, mas nossa lógica atordoada insiste em dizer que estamos certos e que nada esta perdido. Adoramos nos espelhar na idiotice da modernidade, em tudo que é fácil e que nos coloque em um altar, herdamos uma ideia de beleza e padrões, fúteis e nojentos. A diferença não se aceita, teremos que ser "uns mais iguais que os outros". E diante de todo esse carnaval de sentimentos, eis que nos surge à ideia brutal do sacrifício e viver para o que nem sabemos para que e por que, tornar-se humano hoje é algo raro, se iludir sempre é mais fácil, dói menos mas custa caro. Mas diante dessas alternativas prefiro me tornar real, sem máscaras ou falsidades. Simples e humano imperfeito mas digno, levando consigo a chama do que dizem ser impossível.
Diamantes
O que me fez acreditar
e guardar dentro de mim
o que sempre tem fim
e não se pode mudar.
Tua alegria me incomoda
e incerto me destruo
sem tempo ou escolta
temo e recuo,
tendo nas mãos a esmola
desse sonho que contruo...
Se não podemos desvirtuar
as projeções que enfim
dentro de nós criamos,
façamos da incerteza
o delírio que buscamos.
Hoje eu diria que choveu em minha alegria
Minhas ideias nubladas, meu silêncio cinzento
Vejo em poças de lama meus sonhos
E em gotas de chuva meus sentimentos.
Cadernos Filosóficos
E então ficaram velhas cartas, fotografias de um tempo que nos persegue e que parecia eterno. Uma canção de saudade orna o momento, e impregnado em nosso pensamento a mais perfeita lembrança. Parece que as palavras ditas mesmo que injustas, carregavam metaforicamente a essência de uma esperança receosa. Nessas horas, não há quem se exceda nas doses da realidade, tomamos sem moderação a intensa e audaciosa ilusão. Não existe um fim preciso, pelos cantos miragens de um retorno se evidenciam ou se completam. E no passar das horas, nossa consciência amanhece e tudo o que foi profundamente sonhado, evapora.
Há quem leve de nós a paz, o sono, os sonhos e a vida. E nessa constante, cada pensamento pesa e ao mesmo tempo nos dilui. Difícil buscar fundamentos concretos para isso, acabamos apenas no tedioso momento da espera de tudo, enquanto tudo se vai tão rápido e intensamente que quando damos conta a realidade nos premia com a mais pura angústia do que talvez poderia ter sido. Aqueles que se vão por motivos ou maldade, deixam em nós certas vezes doses de um veneno que absorvemos em forma de saudade. É fundamental saber livrar-se de determinados momentos, do que sobrou dentro e fora de si mesmo. A libertação emocional quando consciente, produz outros sonhos, novas alegrias, magnetiza novos amores e tranquiliza a alma.
Não devemos nos angustiar pelas perdas ou por aquilo que poderia ter sido. A principal tarefa é compreender e absorver tais fatos recolhendo uma lição positiva, mesmo que diante de nós a tempestade ou as ruínas de tudo que foi construído nos confunda ou pese. Transcender tudo isso, é um exercício diário, exige observar as coisas internas, deixando as primeiras impressões para aqueles que tendem a valorizar o superficial. A verdade é um mecanismo intenso, por isso algumas vezes dilacera, mas também eleva. É preciso entender que toda tentativa quando justa e sincera transforma, e seus frutos despertam gradativamente. Se não apareceram, aguarde, mas não pare, talvez ainda não seja primavera.
Enfrentar o que a vida nos oferece, ter a percepção exata dos fatos,agir necessariamente para vencer aquilo que nos estagna de alguma forma.Às vezes o medo não é uma proteção, este, se torna um vício, um parasita a inverter a realidade das situações.
Algumas vezes é necessário expandir-se, respirar profundamente, dar outro passo a frente mesmo que estejamos no limite de toda e qualquer possibilidade. Às vezes é preciso cortar as asas do nosso orgulho, entender cada situação de maneira particular, ceder, reinventar-se sem que isso nos destrua.
É preciso entender o processo de cada obstáculo que se apresenta frente as nossas escolhas. Conseguir solucioná-los ou vencê-los é tarefa a ser colocada em primeiro plano. É necessário muitas vezes parar, analisar minuciosamente cada detalhe do caminho e rever nossas ações de enfrentamento. Cabe aqui destacar que refletir sobre como estamos agindo, não é retroceder, porque tal ato nos impõe além do limite pessoal, uma concessão a prisão e cegueira íntima de não observarmos além daquilo que nos acomoda. Portanto, amplie-se, busque sentir outros momentos, pratique outras ações, utilize novos métodos. Viver é uma constante mudança...
O afeto não deve ser uma prisão, muito menos ser uma espécie de desejo cego do qual desejamos ser alimentados tentando saciar nosso abismo de carência ou costume. Conceder a alguém essa responsabilidade é uma aposta de alto risco, onde muitas vezes fechamos os olhos para nós mesmos, na esperança ou ânsia de que outra pessoa complete aquilo que só pode ser preenchido por nós. Vagam por aí milhares de pessoas na busca de um afeto real, que console seu ego, como também amenize sua solidão aguda. Há também aqueles que formalmente fogem e nem sabem como transmitir isso, perdidos em seu próprio deserto de orgulho e angústia. O nosso tempo fragmentou o afeto, procuramos seus pedaços em mil coisas diferentes, pessoas, lugares, momentos...
O tempo impiedoso devasta os sonhos
Desfigura as escolhas e a certeza
A dor habita na espera
E toda esperança depositada nesta
Sucumbe revelando a ilusão
Que pouco a pouco dilacera...
O vazio do passado, a angústia da intenção
Se ampliam deixando sem direção
Os pensamentos mergulhados na pura decepção
Que delicadamente impera.
A solidão novamente se prende aos passos,
Carrega-se outra vez o fracasso
O que imaginou ser não era!