Rosemary Chaia
Estou sentada à beira mar.
Sozinha, mais ninguém.
Balanço a cabeça:
Não, não quero as recordações!
Só quero estar aqui
A olhar pro horizonte
Perdido junto ao mar.
Mas elas insistem,
Não resito,
Me deixo levar pra junto delas.
Uma hora estou no poço,
Grito: Alguém me ajuda!
Poucas pessoas estendem as mãos,
Mas são estas poucas que acreditam quem realmente eu sou.
Outras horas estou na torre,
E mesmo que comigo nada tem em comum,
Não há espaço para mais ninguém.
Cansada de vagar,
Sento-me novamente à beira mar.
Daqui para onde fui,
É uma distãncia enorme,
Mas esta distância
Não traz o esquecimento:
Que eu sempre seguirei
Prisioneira das minhas próprias recordações.
Há uma loucura absurda que me alimenta,
Um desejo que persiste, me atormenta.
Um tipo de mistura de sensações,
Misto de dor, tristezas e emoções.
Tudo por causa de um tal amor
Que está aqui, mas não o tenho;
Está ao meu lado, mas está longe;
Vou até ele, não me contento.
Se aproximo dele, ele se esconde.
Esconde o sorriso
E torna-se sério,
Mas seus olhos reluzem de alegria.
Menina
Eu não tenho mais este jeito de ontem,
Assim natural, assim espontâneo,
Assim meigo e singelo.
Nem estes olhos marejados de encanto e beleza.
Eu não tenho mais este rebolado
Faceiro tão cheio de compasso
Que arrancava suspiros de muitos carnavalescos;
Eu não tenho mais este coração
Que consquistava tanta gente
E desarmava qualquer valente.
Eu não me dei conta desta mudança,
Tão previsível, tão possível.
Em que outro baile de carnaval
Posso reencontrar-me com esta menina que fui?
O mundo é ardiloso. Ficamos chocados com acidentes provocados por bebidas alcoólicas (e exigimos até leis punitivas), apoiamos o AA etc, mas nossas festas (familiares e quermesses) são regadas delas.
Temos dificuldade em conviver com as diferenças, embora desejamos ser reconhecidos como alguém diferente e especial.
Reconhecer que erramos ultrapassamos a nós mesmos no processo de arrependimento, e assim buscamos fazer as pazes com os que ofendemos.
Oh, versos! Às vezes, com rimas,
Vezes sem rima...
Não importa...
Precisa só sair da margem,
Ser profundo.
Continho
São Bento, próximo à Cracolância. Samáforo fechado. Carro parado. Uma mão pequena bate no vidro do carro. Abro o vidro.
"Dona, vou lavar o vidro!"
Não precisa, não!
"Precisa sim, dona; tá sujo!"
Não precisa!
"Precisa!"
Seu engraçadinho duma figa! Cadê teus pais pra te levar pra escola?
"Não tenho pais, não, dona."
E onde você mora?
"Na rua."
Amiga,
Por onde andas?
É madrugada e noite e eu sozinho.
Prantos, tantos!
Que deixam minha´lma em descaminho.
É doce sentir tua presença
E te escutar falar de coisas mais amenas.
Tua palavra é sempre bem querença,
Por isso abro minha1lma a ti e ela descansa.
As lágrimas que soltam agora dos meus olhos
São gotas de orvalhos estelares
Que saem à procura dos teus passos.
Sei que tudo faria pra me dar uma alegria,
Mas na verdade mesmo o que eu quero
É te dar um abraço de saudade.
Pai,
Amo-te tanto, meu pai... já te dizia.
Tivemos tantos momentos juntos... que saudades!
Amo-te como pai e amigo, seu Chaia
Numa sempre diversa realidade.
Como foi bom receber a tua proteção,
Crescer sentindo tua lealdade.
Quando nasci tinha tanto medo!
Era tão bão sentir teu coração...
Choro, me falta teu calor eterno.
Temo, não tenho mais tua proteção,
Cumplicidade. E fidelidade.
O amor entre nós, jamais cortarão.
Somos parte dela: felicidade!
Tudo entre nós será eterno.
Vivemos tão afoitos na luta pela vida que nem percebemos quão perdida (ou adormecida) anda nossa visão.
Há coisas que acontecem na vida que palavras não retratam, não. É que elas (as coisas) guardam no silêncio a sua expressão.
Hoje pensei em você
Então, pus-me a sonhar de amor... Te quis
Isso porque vi por acaso
Um casal de mãos dadas, feliz.
Então, deixei que todo sentimento
Logo pudesse chegar:
Os delírios mais soltos...
Os gestos mais loucos...
Foram sentimentos que me deram a vida insana
Esta vida que se sente e não se sabe.
No abismo a esperança desengana.
O tempo que não pára e avida passa
Como se fosse as lágrimas da chuva
Que caem caladas no rio sem cessar.