Rosemari Hauenstein Ruch
Metade de mim
Metade de mim
é emoção
e deseja teu corpo ao alcance da minha mão
a outra metade
é razão
e imune te afasta, ignora, finge ilusão.
Metade de mim
não me deixa do teu beijo esquecer
a outra metade
impassível, não me permite sofrer.
Metade de mim
lembra o calor ardente do teu abraço
a outra metade
insensível, nega a existência do laço.
Metade de mim
quer novamente ouvir tua voz
a outra metade
implacável, exige que esqueça de nós.
Metade de mim
é sonho acordado de desejo e lembrança
a outra metade
inabalável lucidez que cessa a esperança.
Metade de mim
subjuga meu corpo na ansiedade do amor
a outra metade
impiedosa rebela-se, aumentando minha dor.
Metade de mim
emoção
grita teu nome ao vento
incontida, desesperada de paixão
a outra
indiferente se cala, sem nenhuma razão.
Pássaro
São uivos
de ventos quentes
que ouço
no lugar de tua voz.
Ventos que
sopram em asas
que não alçam vôos
e ainda assim
derrubam-me
dos céus.
EM SILÊNCIO
Amo em silêncio
e nem as rosas sabem
que teu perfume seria meu destino.
Amo em silêncio
e nem as estrelas pálidas sabem
de mais uma noite calada.
Amo em silêncio
e nem a lua transparente sabe
do meu amanhecer prata, solitário.
Amo em silêncio
e nem o vento sabe
que corta as dores
que ninguém sabe
que existem.
Te amo em silêncio
e só o silêncio sabe.
IMORTAL
O amor que não morre
alonga-se ao infinito
para colher das estrelas o passado,
mas volta com níveas mãos
molhadas de saudades,
cada vez que nasce o dia.
O amor que não morre
veste o céu de lembrança,
inventa os ritos de ficar sozinho
acompanhado de tanta esperança,
cada vez que nasce o dia.
O amor que não morre
ainda morre de amor,
cada vez que morre o dia.
ADEUS
Leve contigo
o canto triste do teu adeus
e a gota d’água,
as meias palavras ditas à meia luz
do teu pensamento
e as flores,
douradas e passageiras.
Talvez queira as madrugadas
agora vazias de algum encanto
e os acordes
de nossa canção desesperada
em sonata desarranjada.
Deixe minha alma entregue a mim
e meu corpo
a diluir o gosto de tua boca.
Deixe a alvorada
e não leve a poesia.
Não mais serão teus,
os versos meus.
ENCONTRA-ME
Foge comigo para o horizonte
quando a luz acordar
em arroubos de dia
e aquece-me no teu abraço
que me fará perder o norte
entorpecida dos teus desejos.
Encontra-me em teus versos de amor
vestida de rosas vermelhas ao luar,
douradas ao sol e lívidas,
enquanto conto as estrelas do mar.
Encontra-me nas gotas de orvalho
semeadas nas pétalas das nuvens,
onde permaneço sonhando-te
no céu da minha boca.