Rosane Kaingang
Cada povo tem sua forma de olhar, sua cosmovisão, sua forma de ver e viver, sua forma do uso da terra, sua forma de pintura, a cultura tradicional, então nós somos diferentes, somos povos diferentes uns dos outros. Mas o que nos une é a luta pela terra, pelo território, isso nos une fortemente, e a luta pela preservação dos direitos.
As mulheres indígenas têm um papel fundamental dentro de nossas terras. É o papel da educadora, onde ela ensina para suas filhas o artesanato e todo o conhecimento da medicina tradicional e, ao mesmo tempo, todo o conhecimento ao fazer as roças; o armazenamento de nossas sementes e como preparar a semente para que não apodreça e dure até a próxima plantação.
Nossas mulheres também têm um papel de guardiãs de nosso conhecimento, de preservar nosso conhecimento na esfera da espiritualidade e dos nossos rituais, na composição entre homens e mulheres quando nós fazemos os rituais. Guardiãs de uma cultura. Muitas vezes tem o papel de procurar a harmonia, a solução sem conflitos entre um povo.
Acho que a nossa luta indígena tem que caminhar sempre com as lideranças tradicionais, os velhos anciãs e anciãos, juntamente com os líderes que fizeram essa luta e com a nova luta que vem, através das organizações indígenas.
Ao invés de hoje, passados esses 25 anos [da Constituição de 1988], nós estarmos na efetivação concretamente e execução desses direitos conquistados, hoje nós estamos lutando para que esses direitos permaneçam, ao invés de estarmos lutando pela efetivação desses direitos serem executados de forma concreta em relação aos nossos povos indígenas e aos nossos desejos e reivindicações.
Nós não queremos mais ser tratados dessa forma e essa política que vocês fazem para nós, essas interferências em nossas terras e em nossa organização social, política e cultural, nós não queremos mais. Nós queremos dizer para vocês que nós queremos o nosso ponto de vista conforme a nossa cosmovisão, conforme a nossa organização política e cultural do nosso povo.
Hoje estamos vivendo uma situação de muita violência contra nossos os povos indígenas. Há um grande retrocesso nessa conjuntura política atual em que os três poderes, legislativo, executivo e judiciário se organizaram, se articularam para que houvesse um retrocesso nos direitos conquistados pelos povos indígenas.
O papel da universidade é multiplicar formadores para que nós construamos um Brasil melhor com qualidade para todos nós, qualidade de vida para todos nós.
Quando você forma, você vai formar crianças, adolescentes e jovens que vão cuidar desse futuro do Brasil, e se esses jovens não forem capacitados politicamente e não tiverem um compromisso com a sociedade brasileira, então que tipo de Brasil nós queremos no futuro?
Nós estamos num país capitalista, que arrasou os povos indígenas e ainda arrasa! Quando o capital entrou, arrasou conosco dentro de nossas terras e num país que se diz democrático a gente vê que não tem nada de democracia.