Rômulo Romanha
Semáforo
No espaço que desvia a presença
e, faz presente a ausência
viajando...
sigo a caminhar... saltando
sobre as estrelas do universo
e nessa amarelinha metafísica
encontro um pouco disso
...que já nem sei o nome.
Tempo que (dez)gasta
os sonhos no (dez)caso
subtrai a voz e as vibrações do ar
nessa fórmula insana:
hora + hora = ZERO.
Ahh... esses olhos...
Olha e cala-te.
Cala-te!
Olha!
juventude ainda andante...
passo a passo.
Sentido?
nada resta
o que restaria a ti?
Cala-te!
e ali parado verá que é
um simples
contemplante
diante
de um universo em movimento.
Os sons emitidos pelas vibrações
quase imperceptível
das pedras...
São transformados em ações
na alma sensível
dos poetas.
O que me faz perceber
que lá é outro lugar
é a janela de casa,
se pra fora me ponho a olhar.
Então percebo que lá não estou.
E aqui,
nesse ambiente cercado
me pergunto calado
Onde começou o ar daqui
e o de lá terminou?
Vamos passear comigo?
Prometo te levar ao mais alto lugar,
onde os sonhos passeiam pelo céu
e os pensamentos se desmancham no ar.
Olharemos a vida...
que se manifesta no sutil movimento dos átomos.
depois, podemos ainda
olhando... lá de cima
entender o que se passa
entre os sonhos que caminham pelo vento
e as vontades que se fazem nossa casa.
Verás os sonhos das crianças
brincando inocentes na imensidão do céu
Terá as marcas da lembrança
que jamais serão apagadas do seu papel.
Então quando voltarmos...
quando não formos mais os mesmos
deixe-me observar em ti no que se tornaram
os meus velhos sonhos
e meus, sempre novos, desejos.
No verso
no verbo
o pensamento é terno.
A cidade se consome
o que era longe fica perto
Trajetória
História
Vem na memória
Tempos de tristezas
mas também tempos de glórias
E o sorriso brota fácil
A luz revela a face
A sutileza nasce,
no detalhe que falasse.
Oscilando o tempo no espaço
causando rupturas no compasso
Alí, entre o que penso e faço,
mas o lápis eu carrego e o meu eu traço.
Por isso, trazer o olhar ou pra frente enxergar.
Traz aquele cheiro fresco do que vem a conquistar
Na amizade que invade se faz felicidade
Idade, a tirania se rende a liberdade
E o sonho ao se olhar vê-se realidade
Quem diria, isso deixaria de ser só vontade.
Acordar...
deixar o estado
de sono,
perceber...
as sutilezas da matéria.
O sentido...
Volta a ser sentido.
Todos os dias ao te olhar...
um novo Sol nasce em mim...
um Solzinho pequenino...
mas caminhando leve
meio que rasteiro
consegue desequilibrar o que sou.
Penso...
não falo.
não quero interferir naquilo que se faz belo
Ao voltar...
pergunto sobre seu dia
e suas diversões rotineiras criam minhas fábulas
seu olhos diante dos fatos trazem os devaneios
Os sonhos...
viajam no espaço que se cria entre o céu
e seus olhares soltos
Às vezes meus olhos sangram
em busca de sua imagem,
quando as pupilas não recebem
os raios de sua luz.
Que caminham por dimensões
multiplicadas em milhões
por planetas e constelações
ampliando as PULSAÇÕES...
no espaço...
Onde viajam seus sonhos
e as águas do tempo consomem
seus limites no mundo,
acima das lentes da face
no octógono azul.
Em direção dele me lanço,
me jogo buscando o nada
mas que nada
busca se encher de mim.
afinal,
Contigo estou cheio de tudo.
O espaço como labirinto de si mesmo
Numa "urbanofagia" que constrói conceitos
A expansão da retração também é movimento
Fecho a gaveta após ter aberto o meu pensamento
Na dimensão exata deste mesmo espaço
Segue a cidade habitada por seres alados
Abrindo as portas dos sentidos que eram guardados
No cromatismo do baú que é iluminado
O cheiro envolvente e também incandescente
Se faz indecente o que é inocente
Do verde que cria o amarelo e o vermelho
Até a dimensão que existe além do espelho
Ocultismo pichado na parede do vento
No tempo do espaço ou no espaço do tempo
Desarranjando as horas espaciais do corriqueiro
O deus que cria o dia acendendo o isqueiro
De lugar nenhum em lugar algum
Observando o que não vejo
Enchendo os olhos com as imagens encontradas
A cada movimento a visão é transformada
A sombra de suas bailarinas com adornos prateados
Em forma de uma medusa sob os lampadários.
A arquitetura que vem p'ra roubar nossa visão
Os signos em eterno estado de transformação.
A cidade se consome em sua própria construção
Só podemos transitar em estado de contemplação
Sua arquitetura desmonta a linearidade
A exuberância reconstrói a sua simplicidade
As miragens nos enganam enquanto andamos no deserto
Os imensos edifícios que nos afastam do que é perto
Ela está parada mas em eterno estado de mutação
Os transeuntes que figuram essa procissão
Explorando suas carnes em busca do pão
Sofreando seus desejos por medo da punição
Somente olhando para cima observamos o sol
Só olhando para a luta que encontramos um farol
A morte das suas casas já anunciam um final
Tudo observado por uma visão multilateral
Tentando compreende-la não me compreendo
Tentando controla-la não me contenho
Sua existência continua em suas particularidades
E os olhos sempre seguirão em busca dos olhares...
As cidades brincando com os olhos...
Os olhos brincando com as cidades...
O olhar transformando o cotidiano...
E a visão transformando a realidade...
Num barraco de madeira sentem a dor do abandono.
A dor da surra.
A dor do álcool, que transforma em monstro seu progenitor.
Carregam em suas cicatrizes as ofensas e furto de sua dignidade, o medo.
As lágrimas escorrem sem testemunhas, almas inocente se perdem diante do mal.
Todas as ilusões e os pesadelos são reais.
Uma angustia, a dor da fome alimenta sua queda.
Tendo certeza da desgraça caminham com mais firmeza em direção a morte.
Caídos nas ruas os anjos se calam.
Seu choro não é escutado pelos ouvidos omissos.
Essas vítimas do capital sofrem sem poder de luta.
Sem força para uma resistência.
Calados tentam alimentar seus vícios gentilmente incentivados pelos adultos.
Buscam alimentar suas ilusões, perseguem o sorriso num saco com cola.
Buscam diminuir ali o frio das ruas, do vento que corta seus rostos pequenos nas madrugadas, da fome que os devora.
Tentam fugir do medo, medo do mundo que eles não pediram pra vir, e do qual sempre tentam deixar.
No momento em que os anjos caem, lagrimas escorrem dos céus.
O opressor se alimenta, das suas dores, de seus sonhos perdidos, de suas cicatrizes.
No momento em que os anjos caem, eles nos mostram o quanto ainda somos perversos.
Pois carregam em seu corpo as marcas da vingança, pois muitas vezes são oprimidos pelos oprimidos, como seus progenitores e, nas ruas o opressor mostra sua verdadeira face.
São inocentes, sem consciência de bem ou mal, mas já sabem que a face do bem nunca se mostrará a eles.
Somente a feição perversa e maligna do mundo seus olhinhos pequenos conseguem enxergar.
E assustados, apavorados diante do poderoso inimigo, diante de grandioso sofrimento, eles agem como anjos caídos, devolvem de forma muito fraca, uma resposta a tudo isso.
No momento em que os anjos caem, toda a humanidade desce com eles.
As rugas congeladas nas ruas das cidades
Nas filas esperando por um pouco de esperança
Seus ossos corroídos por anos de servidão
Agora se tornam lixos e um peso social
Suas súplicas por justiça são ignoradas
Perversidade faz parte do jogo do poder
Lágrimas enfeitam as prateleiras dos senhores
Que sentem prazer em destruir seus sonhos
O cheiro putrefato do abandono é um perfume nas narinas dos detentores de capital.
A solidão e o desespero que essas pessoas se encontram animam olhos vorazes por dor.
A crença espalhada de que eles não mais servirão, faz com que até os mesmo se sintam inúteis.
Pessoas sofrem diante de uma nação silenciosa
Controlados pelo sistema não reclamam
Consideram essa fase como parte do processo
E se preparam pra sofrer calado quando chegar sua vez
De cabeça baixa seguem diante do opressor
Que coordena suas vidas medíocres até o fim.
Quando não será mais necessária
Aí seremos todos largados
Sem capacidade viver muito tempo
Além do que planejaram
Pois os recursos dados, não são uma ajuda
Mas sim uma forma de manter-nos fracos sem forças para lutar
E garantir que a nossa morte ainda esteja próxima!!