Roger Scruton
A Cultura Ocidental é uma criação do Cristianismo. Retire o Cristianismo e o que sobra de Dante, Chaucer, Shakespeare, Racine, Victoria, Bach, Titian, Tintoretto...?
A tradição da Esquerda é julgar o sucesso humano pelo fracasso de alguns. Isso sempre lhe oferece uma vítima a ser resgatada. No século XIX eram os proletários. Nos anos 60, a juventude. Depois as mulheres e os animais. Agora o planeta.
O homem que diz que a verdade não existe está pedindo para que você não acredite nele. Então, não acredite
"O conservadorismo advém de um sentimento que toda pessoa madura compartilha com facilidade: a consciência de que as coisas admiráveis são facilmente destruídas, mas não são facilmente criadas. Isso é verdade, sobretudo, em relação às boas coisas que nos chegam como bens coletivos: paz, liberdade, lei, civilidade, espírito público, a segurança da propriedade e da vida familiar, tudo o que depende da cooperação com os demais, visto não termos meios de obtê-las isoladamente. Em relação a tais coisas, o trabalho de destruição é rápido, fácil e recreativo; o labor da criação é lento, árduo e maçante. Esta é uma das lições do século XX. Também é uma razão pela qual os conservadores sofrem desvantagem quando se trata da opinião pública. Sua posição é verdadeira, mas enfadonha; a de seus oponentes é excitante, mas falsa."
Por que a beleza importa?
Em qualquer tempo, entre 1750 e 1930, se se pedisse a qualquer pessoa educada para descrever o objetivo da poesia, da arte e da música, eles teriam respondido: a beleza. E se você perguntasse o motivo disto, aprenderia que a beleza é um valor tão importante quanto a verdade e a bondade.
Então, no século XX, a beleza deixou de ser importante. A arte, gradativamente, se focou em perturbar e quebrar tabus morais. Não era beleza, mas originalidade, atingida por quaisquer meios e a qualquer custo moral, que ganhava os prêmios.
Não somente a arte fez um culto à feiúra, como a arquitetura se tornou desalmada e estéril. E não foi somente o nosso entorno físico que se tornou feio: nossa linguagem, música e maneiras, estão ficando cada vez mais rudes, auto centradas e ofensivas, como se a beleza e o bom gosto não tivessem lugar em nossas vidas.
Uma palavra é escrita em letras garrafais em todas estas coisas feias, e a palavra é: EGOÍSMO. "Meus lucros", "meus desejos", "meus prazeres". E a arte não tem o que dizer em resposta, apenas: "sim, faça isso"!
Penso que estamos perdendo a beleza e existe o perigo de que, com isso, percamos o sentido da vida.
"O conceito crucial para qualquer tentativa filosófica de fornecer a base para o entendimento humano é o conceito de pessoa. É uma tese bem conhecida da filosofia [...] que os seres humanos podem ser descritos sob duas óticas contrastantes (e, para alguns, conflitantes): como organismos obedientes às leis da natureza, e como pessoas, às vezes, obedientes, às vezes desobedientes, à lei moral. As pessoas são agentes morais; suas ações não têm apenas causas, mas também razões. Elas tomam decisões para o futuro, e por isso têm, além de desejos, intenções. Elas não se permitem ser sempre arrastadas por seus impulsos, mas ocasionalmente resistem e os subjugam. [...] Apenas uma pessoa tem direitos, deveres e obrigações; apenas uma pessoa age por razões além das causas; apenas uma pessoa merece nosso louvor, censura ou raiva. E é como pessoas que percebemos e atuamos um sobre o outro, mediando todas as nossas respostas mútuas com o conceito obscuro, mas indispensável, do agente moral livre."
Tolerância não significa renunciar a todas as opiniões que outros podem considerar ofensivas. Toleramos justamente aquilo que não apreciamos, que desaprovamos. Tolerância significa estar preparado para aceitar opiniões pelas quais temos forte aversão. Do mesmo modo, democracia significa aceitar ser governado por pessoas por quem nutrimos repugnância profunda. Isso só é possível se mantivermos a confiança na negociação e no desejo sincero, entre os políticos, de compromisso com os adversários.
Um mercado pode fazer a alocação racional dos bens e serviços somente onde há confiança entre os integrantes, e a confiança só existe onde as pessoas assumem a responsabilidade por seus atos e se tornam responsáveis por aqueles com quem negociam. Em outras palavras, a ordem econômica depende de uma ordem moral.
Sem uma procura consciente da beleza, arriscamo-nos a cair num mundo de prazeres que causam dependência e na banalização dos atos de dessacralização, um mundo em que já não se percebe bem por que vale a pena a vida humana.
"As pessoas da direita não se identificam como tal, não como parte de um grupo. Nós apenas nos agarramos às coisas que amamos."
(Recusando-se a ser qualificado como um homem “de direita”, em debate com o crítico marxista Terry Eagleton).
"As pessoas da direita não se identificam como tal, não como parte de um grupo. Nós apenas nos agarramos às coisas que amamos."
Ironicamente, talvez a maior conquista intelectual do partido Comunista tenha sido convencer as pessoas de que a distinção de Platão entre conhecimento e opinião é válida e que a opinião ideológica não é meramente distinta do conhecimento, mas o inimigo do conhecimento, a doença implantada no cérebro humano e que torna impossível distinguir ideias verdadeiras das falsas. Essa foi a doença espalhada pelo Partido. E também foi difundida por Foucault. Pois foi Foucault quem ensinou aos meus colegas a avaliar cada ideia, cada argumento, cada instituição, convenção ou tradição em termos de 'dominação' que ele mascara. A verdade e a falsidade não tinham significado real no mundo de Foucault; tudo o que importava era o poder.
"Obviamente, as circunstâncias dos seminários clandestinos eram incomuns e ninguém gostaria de reproduzi-las. No entanto, durante os dez anos que trabalhei com outros para transformar esses grupos de leitura privados em uma universidade (embora clandestina) estruturada, aprendi duas verdades muito importantes. A primeira, é que uma herança cultural é realmente um corpo de conhecimento e não uma coleção de opiniões – conhecimento do coração humano e da visão de longo prazo de uma comunidade humana. A segunda, é que esse conhecimento pode ser ensinado e que não exige um vasto investimento de dinheiro para fazê-lo, certamente não os $50.000 (dólares) por aluno por ano exigidos por uma universidade da Ivy League. Requer um punhado de livros que passaram pelo teste do tempo e são apreciados por todos os que realmente os estudam. Isso requer professores com conhecimentos e estudantes ansiosos para adquiri-lo. E requer a tentativa contínua de expressar o que já foi aprendido, seja em dissertações ou em encontros face a face com um crítico. Todo o resto – administração, tecnologia da informação, salas de aula, bibliotecas, recursos extracurriculares – é, em comparação, um luxo insignificante."
"Quando algo tem um alto preço moral, apenas pessoas comprometidas irão buscá-lo. Descobri, portanto, nos seminários clandestinos, um corpo estudantil único – pessoas dedicadas ao conhecimento, como entendi, e conscientes da facilidade e do perigo de substituir o conhecimento por mera opinião. Além disso, eles estavam procurando por conhecimentos no lugar onde é mais necessário e também mais difícil de encontrar – em filosofia, história, arte e literatura, nos lugares onde a compreensão crítica, e não o método científico, é nosso único guia. E o que foi mais interessante para mim foi o desejo urgente de todos os meus novos alunos de herdar o que lhes foi transmitido. Eles foram criados em um mundo onde todas as formas de pertencimento, além da submissão ao Partido governante, foram marginalizadas ou denunciadas como crimes. Eles entenderam instintivamente que uma herança cultural é preciosa, precisamente porque oferece um rito de passagem para o que você realmente é, e a comunidade do sentimento que lhe pertence."
Na tradição britânica, os conservadores são herdeiros de uma cultura insular e que o costume prevalece sobre a razão como o último tribunal de apelação. Seu processo
político é governado por uma constituição não escrita, cujos princípios são uma questão de costume, e não de regras explícitas.
O conservadorismo inglês tem raízes no legado da classe alta inglesa, no comedido bom senso da antiga constituição inglesa e nas modestas práticas do homem comum,
as quais na vida de um conservador inglês, substituem convenientemente a opinião.
O conservadorismo é a filosofia do vínculo afetivo. Estamos sentimentalmente ligados às coisas que amamos e que desejamos proteger contra a decadência.
O conservadorismo implica a conservação dos recursos — sociais, materiais, econômicos e espirituais — que compartilhamos e a resistência à entropia social em todas as suas formas.
Em resumo, o conservadorismo surge diretamente da sensação de pertencimento a alguma ordem social contínua e preexistente e da percepção de que esse fato é importantíssimo para determinar o que fazer.
"Os amigos vêm e vão, passatempos e feriados passam pela sombra da alma como a luz do sol em um vento de verão, e o anseio pelo afeto é cortado em cada ponto pelo medo do julgamento".
O ser contingente tem a potencialidade tanto de ser quanto de não ser, sem contradição. Você e eu somos seres contingentes nesse sentido, e, ainda que me seja concedida certa intuição da minha própria existência, essa certeza é mera posse pessoal e nem mesmo garante minha sobrevivência, nem refuta a afirmação de que existem mundos possíveis em que eu não existo.
("O Rosto de Deus")