Rodrigo Solano
Minha nação: A maior de todas!
Ó segregado, apresento a ti minha nação e seus feitos;
Descobrimos o fogo;
E ele nos deu o poder;
Construímos as ferramentas;
E elas nos deram o trabalho;
Amansamos os animais;
E eles nos deram o conforto;
Descobrimos as sementes;
E elas nos deram o alimento;
Separamo-nos em grupos;
E eles nos deram a diversidade;
Desenvolvemos a língua;
E ela nos deu o pensamento;
Inventamos a escrita;
E ela nos deu a história;
Observamos o céu;
E ele nos deu as direções;
Criamos os transportes;
E eles nos deram o mundo;
Nos afeiçoamos aos diferentes;
E eles nos deram a mistura;
Estudamos a natureza;
E ela nos deu a ciência;
Pensamos no desconhecido;
E ele nos deu Deus;
Se não percebes quem somos;
De certo vives no mundo da ilusão;
Mas se és parte do que te apresento;
Deixas de ser só uma simples parte;
E passas a ser o todo!
Bem-vindo à minha nação!
Bem-vindo ao mundo todo!
O Outro
Não sou eu que penso nem sou eu que falo;
É a minha história;
Não é o outro que pensa, nem é ele que fala;
É a sua história;
Assim sendo, o outro é o mesmo que eu;
O outro não existe;
Outra é somente a história.
É como é
Alimento sem tempero;
Frio sem roupa;
Trevas sem fogo;
Dor sem analgésico;
A visão desde o cume;
O som das formigas;
A nota do vinho;
A vibração do ar;
É ruim e é boa;
Choca e acalenta;
Mas nunca é menos;
Sempre é mais;
Não é para os fracos;
Contrariando até os fortes;
Ela não quer que seja;
Porque é o que é;
Algo que buscamos;
Quase nunca querendo;
Se apresentando incompleta;
Uma desgraça e uma bênção;
Não pode ser minha;
Não pode ser tua;
Não pode ser deles;
Só é se for de todos;
E o que é senão a verdade?
"O Proibido"
A fala proibida;
O pensamento proibido;
O ato proibido;
A vida proibida;
A felicidade proibida;
O todo proibido;
Se libertam em forma de arte!
Ao Brasil
De uma árvore recebes o nome
Que como quase tudo aqui some
Povos língua e cultura
Por uma nação futura
Pretos brancos e pardos
Cada um com seus fardos
Um presente sem origem
Com o passado em fuligem
O teu futuro é um desejo
Sempre em busca de um ensejo
És sempre o futuro de um passado
Rasgando esse mundo raçado
Ó Brasil que não se atém
E dos outros tem desdém
É um espelho que te falta
Que te porias em pose alta
No Pão-de-Açúcar tuas curvas
E na calçada peles turvas
Opacidade de todas as cores
Ocultada por tantos amores
Amores que frutos produziram
E que as diferenças reduziram
Não és senão mestiço
Nem tão bom és por isso.
Raças que sim resistem
Raças que não existem
Raças que se intitulam
Raças que se misturam
Brasil o país da mistura
Que só pode ser pura
Deixa a mulata entrar
Pro samba aqui passar
Deixa o boi entoar
E o pajé mostrar o cocar
E aquele não é alemão
Só apelido de antemão
Índios, brancos e pretos
E estrangeiros fora dos guetos
Brasil terra do todo
Que logo saias do lodo
Não precisas de salvador
Tens o grande redentor
Tudo o que és tu Brasil
É o mundo que aqui se uniu
Brasil, mostra tua cara
Que ao mundo será odara
Tomara meu Deus, tomara!
"Paixão"
A paixão é como uma cegueira;
Não permite que se veja bem;
A paixão é como uma surdez;
Não permite que se escute bem;
A paixão é como uma loucura;
Não permite que se pense bem;
Ela pode fazer com que demônios pareçam deuses, mentiras pareçam verdades, o mal pareça o bem;
O apaixonado muitas vezes escolhe a ilusão e rejeita qualquer coisa diferente dela. Sofre, faz sofrer e ninguém pode ajudar;
Com efeito, a paixão é uma muralha entre o apaixonado e a realidade.
"Júbilo"
A partir deste momento meus pensamentos estarão para sempre em júbilo;
Ao acordar, estarão meus pensamentos livres, em júbilo;
Nas minhas atividades, estarão meus pensamentos focados, em júbilo;
Perceberei que possíveis adversidades estão do lado de fora, e estarão meus pensamentos do lado de dentro, em júbilo;
Ao adormecer, estarão meus pensamentos evanescentes, em júbilo;
Todos os dias assim farei e meus pensamentos estarão em eterno júbilo!
O Agora
Quando minha consciência está no agora, não há passado como não há futuro. Sempre é agora e o tempo se torna infinito.
O Extremista
O extremista não observa, não ouve, não pensa. Sua mente está tomada por pensamentos construídos por outrem;
Sua atitude é lutar contra extremistas que não são senão seu próprio reflexo no lado oposto;
Assim, o extremista não existe no pensar;
Somente faz parte da matéria que deteriora a evolução da humanidade, numa luta que para ele não terá fim;
O extremista não sabe que é como é;
A causa do seu próprio sofrer!
Bem-vinda(o)
Bem-vindo ó nórdico
Bem-vindo ó sulista
Bem-vindo ó branco
Bem-vindo ó negro
A porta está aberta!
Bem-vindo ó oriental
Bem-vindo ó ocidental
Bem-vindo ó pensador
Bem-vindo ó sábio
A porta está aberta!
Bem-vindo ó ancião
Bem-vindo ó jovem
Bem-vinda ó mulher
Bem-vindo ó homem
A porta está aberta!
Bem-vindo ó monge
Bem-vindo ó mago
Bem-vindo ó amante
Bem-vindo ó solitário
A porta está aberta!
Bem-vindo ó farto
Bem-vindo ó necessitado
Bem-vindo ó cooperador
Bem-vindo ó benéfico
A porta está aberta!
Ela somente fecha àqueles que não sabem dizer:
Bem-vindo!
Teu dia!
Antes de ti
Pode sentir
Que nada havia
Nada existia
Ao que havia, a língua te deu acesso
E à existência, a vida te deu o sucesso
Olha que hoje tudo há
Pois tua pessoa aqui está
Do futuro nada se sabe
Predizer não nos cabe
Mas se tudo a partir de ti está
O fruto de tua vida florescerá!
O inimigo se apresenta como tal no momento em que nos parece diferente de nossa auto projeção ilusória de quem somos. Neste momento também passa ser ilusória a noção de inimigo. O inimigo está no avesso de um espelho, na antítese de Narciso, na nossa frustração de o outro não parecer nosso próprio reflexo. O inimigo é um delírio que insistimos em dar-lhe forma, assim mesmo carregando a culpa por ser diferente, como nós mesmos o somos. E neste ponto não somos senão iguais.
A maior parte das pessoas não quer a verdade, mas a confirmação de suas ilusões. Escapar deste instinto me parece tórrida evolução!