Rodrigo Paixão
O espartano
Passei por aqui e te vi ali quietinha..
olhei de longe e pensava se chegava perto ou não
quase como um gato cuidadoso resolvi chegar..
de mansinho.. devagarinho..
toquei seu ombro e vc nem me perecebia..
parecia estar em outro mundo..
quando se deparou comigo fez cara de espanto.. de surpresa..
te dei um sorriso.. te fitei os olhos.. passei a mao pelos seus cabelos... e te olhei mais um pouco..
fiquei ali guardando o mundo dentro da boca...
enforcando meu coração ao mesmo tempo que sorria..
fiquei ali querendo te passar a paz que parecia precisar.. e como um guerreiro, contive o tumulto dentro mim..
Minhas células.. meus hormonios.. pensamentos.. desejos.. carencias e carinhos.. meu sangue em ebulição.. um vulcão dentro de mim.. e eu ali.. plácido.. contido.. apenas sorria como um anjo.. e minha pele, o filtro das minhas emoçoes, por não ter tamanha destreza em disfarçar, deixava aparecer através dos pelos arrepiados do meu corpo, o que por dentro acontecia.
E então tirei as maos de você, desviei o olhar, e como um menino que precisa ir embora do lugar mais legal que ele um dia foi, sem abaixar a cabeça, coloco um pé atrás do outro em direção contraria a sua.
Você se recoloca em seus afazeres e me vou.. com o mesmo pequeno sorriso, com a mesma fisionomia tranquila.. com a mesma paz com a qual cheguei.. e de novo, como um guerreiro em meio às sua intimidades, me vejo como represa de mim mesmo..
enquanto sigo, como um espartano, deixando o lugar, tudo dentro de mim tenta me puxar.. grita, esperneia e até me xinga..
e lá na frente.. eu apenas viro a cabeça e me dou como presente às minhas retinas, sua imagem