Rodrigo Alvarez
Qual será o poder de uma pequena imagem de chumbo vendida como lembrancinha? Qual é o poder real daquilo em que acreditamos, pelo simples fato de que acreditamos?
Mesmo sem acreditar em encomendas, tinha certeza de que a mãe de Jesus estivera o tempo todo segurando sua perna, talvez também suas mãos, e as mãos do médico que lhe devolveu o dom de caminhar.
Era verdade então que a vida do paraplégico Lourival não tinha mais os limites de alguns dias antes? Nem os limites da razão que o faziam ter certeza de que nunca mais poderia caminhar, desafiando inclusive sua fé?
Depois daquela experiência extraordinária, Daniel pensou que estivesse vivo outra vez. Mas, talvez não. Talvez estivesse a caminho do Céu, levado por aquela mulher de mãos brancas. Ficou alguns instantes entre um e outro mundo. Até que, de repente, voltou a ouvir a barulheira do povo à sua volta.
Imagine você o que Mirza não terá sentido quando viu uma senhora entrando em seu quarto e lhe acariciando os cabelos, enquanto a doença grave, de repente, desaparecia. E o que você pensaria sabendo que, na mesma casa, em outro momento, Sônia teve praticamente a mesma visão?
Aí, pensando que foi só mais uma coincidência da vida, você fica sabendo que, num outro canto do Brasil, Paulo Roberto se agarrou a uma imagenzinha de chumbo e sentiu que, por causa dela, sobreviveu ao desabamento do mundo. Ainda ouviu uma voz lhe dizer: "Pula para o outro lado do carro!".