Rodemir Oliveira
celulose
sou apenas de almaço ou sulfite
onde se escreve, o pobre e a elite,
usando impressão, caneta ou grafite.
não posso dar palpite,
este conto jamais é bipartite
e para papel também há limite.
não participo de casamento ou desquite,
sou apenas aquele que transmite
uma história, um texto ou o convite.
desejo que você acredite
e se possível me facilite,
apenas viva, escreva ou digite.
se errar, não se irrite,
tenha calma não grite.
apague, reescreva, reedite.
se amassar e rasgar, não hesite
lembre-se e evite.
venho da celulose e não da celulite.
Vem
Vamos em frente, atrás vem gente
Vamos embora, está na hora
Vamos de lado, está atrasado
Vamos entrando, está fechando
Vamos junto, resolver o assunto
Quem fica parado é poste,
Então vamos, mesmo que não goste.
Soa
Uma amada vira patroa
O marido logo enjoa
E a relação destoa
O amor agora magoa,
Toda a alegria voa
Trazendo dor que ecoa
Tomada a sua coroa
Seu lar já não abençoa,
Pelo contrário, amaldiçoa
Esta alma linda e boa
Passa comer, semelhante a leitoa,
E no banho não se ensaboa
Transtornada, essa pessoa
Torna-se feroz leoa
E sai à caça, à toa
Contra o ex, apregoa
Vingança e não perdoa
Mesmo que, interna, se corroa
Solitária como canoa
Ela, ao primeiro, se doa
Que belas palavras entoa
Mas a doença ainda agrilhoa
Afogando-a numa lagoa,
De tristeza que tanto escoa.
Rodemir 230919