Roberto Sides
Dona Esperança e Seu Amor
Enquanto a DOR nascia e crescia
Lentamente adoecia
a pobre DONA ESPERANÇA
Que com espírito de criança
Ousou um dia sonhar
Que ainda havia muito para amar.
A idade lhe fez perceber
Que por ser a última a morrer
Veria com imenso horror
A morte do SEU AMOR
Que com um profundo corte
Sangrou e agonizou até a morte.
A Loja dos horrores
É, a loja dos horrores está aberta
E você aí do lado de fora
Sim, sempre muito esperta
Melhor não entrar agora
Se tudo lhe parece uma loucura
Espere até que se sinta segura
Deixa tudo isso acabar
Assim não há como procurar
O que é barato logo acabará
O que há de bom também não restará
E quando a prateleira esvaziar
A loja terá que fechar.
Mas, você estará aí protegida
Olhando através da vitrine
E da sua escolha convencida
Por poder escolher seu magazine.
Ninguém pode lhe questionar
Você é quem decide
O que, quando e onde comprar
Entendo que estou chegando ao fim
Quando a cada dia nasce um pouco de morte em mim
A dor deixa de ser um estado
E passa a ser um agente incrustado
Para isso não há descoberta de cura
E enquanto a vida perdura
Afugenta o medo destemida
Ordenando que seja esquecida
Deseja a célere solução
Contrariando sua natureza então.
O desamor eclodiu
No começo ele pedia para não morrer
Em seguida para que não fosse tão cedo
Mais tarde que se tivesse mesmo que acontecer
Que fosse sem dor este enredo
Com o tempo pensou apenas em preservar
Aqueles que amava da dor
Tendo tempo para as coisas arrumar
Partir sem preocupações e srm rancor
Mas chegou o dia em que apenas pediu
Do alto de seu desespero
Para que levasse logo, sem exaspero
Pois seu desamor eclodiu
Já (deste lado)
Já nasci e dá minha árvore gerei derivado
Já cresci e vi o crescimento do que me é nato
Já falei e escutei tudo que me foi
falado
Já pedi e orei por aquilo que havia necessitado
Já agradeci por tudo aquilo que me foi
dado
Já ganhei e sorri pelo o que por mim foi conquistado
Já chorei e me entristeci por tudo que de mim foi retirado
Já estendi minha mão à quem precisou e já fui ajudado
Já acertei e vi com alegria a vitória de quem havia acertado
Já errei demais e senti as consequências do meu ato
Já perdoei e por muitos pecados fui perdoado
Já decepcionei os meus e também fui decepcionado
Já vivi enfim, mas não sei o que ficará marcado
Já sinto então, que não há mais nada a fazer deste lado
Lágrima
Insistindo neste suave deslizar
contorna o caminho marcado
Na depressão do relevo castigado,
por ação mais forte que o caminhar
Marcas como fissuras encaminham
o líquido que brota no olhar
Penugens são obstáculos que figuram
na face que não quer se mostrar
Agora não está mais só
Na trilha por ela deixada
seguem réplicas sem dó
irrigando a paisagem ressecada
Em terra pelo tempo esquecida
esta irrigação é matéria prima
da semente nela embevecida
pelo escorrer da lágrima