Roberto DaMatta
Certas melodias têm tanta vida que obrigam à sua manifestação, mesmo pelos maus cantores. Eles não cantam nada, mas são, sim, cantados por essas grandes músicas.
“Se há um termomêtro para medir o grau de cidadania de um povo, o trânsito certamente encabeça a lista de itens culturais que fazem isso com precisão: constitui-se dentro do espaço público, lugar de encontro entre classes sociais distintas, e requer um convívio igualitário, com Leis que valham para todos e que sejam respeitadas”.
No Brasil todas as situações sociais têm algum “dono”. Se este não é uma pessoa concreta, é um santo. Se não é um herói, é algum domínio. Sempre – e este é o ponto-chave – existe uma necessidade de impor um código qualquer, de modo que a situação possa ser hierarquizada.
No fundo, vivemos em uma sociedade onde existe uma espécie de combate entre o mundo público das leis universais e do mercado; e o universo privado da família, dos compadres, parentes e amigos.
Sabemos que é quase impossível julgar uma pessoa no Brasil, pois aqui quem está no banco dos réus é uma família, uma parentela, uma rede de relações, um partido político.
Foi o futebol que permitiu uma visão mais positiva e generosa de nós mesmos como nenhum outro livro, filme, peça teatral, lei ou religião jamais realizou.
Amamos o futebol porque o jogo nivela todas as diferenças e, especialmente, pretensas superioridades.
Nota: Citação ligeiramente modificada do pensamento original, que traz um contexto: "Todos sabem que não se pode ser campeão para sempre. Mas o que dá gosto de ver é uma potência mundial perder para um país pequeno ou flagelado pelo narcisismo às avessas, como o Brasil. Aí é que descobrimos por que amamos tanto esse jogo que nivela todas as diferenças e, especialmente, pretensas superioridades."
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