Roberto Bolaño
As metáforas são a maneira de nos perdermos nas aparências ou de ficarmos imóveis no mar das aparências. Nesse sentido, uma metáfora é como um salva-vidas. E não se deve esquecer que há salva-vidas que boiam e salva-vidas que vão direto para o fundo. É bom nunca esquecer isso.
Às vezes isso é um amigo: a silhueta de um dinossauro que atravessa um pântano e que não podemos agarrar nem chamar nem advertir de nada. São raros/estranhos os amigos: desaparecem. São muito raros/estranhos: às vezes, ao cabo de muitos anos, voltam a aparecer.
Ler é como pensar, como orar, como falar com um amigo, como expressar suas ideias, como ouvir as ideias de outras pessoas, como ouvir música, como olhar a paisagem, como dar um passeio na praia.
Como somos tortuosos. Como parecemos ou nos mostramos simples diante dos outros e no fundo como somos tortuosos. Que pouquinha coisa nós somos e de que maneira tão espetacular nos contorcemos diante de nós mesmos e diante dos outros (...). E tudo isso pra quê? Para ocultar o quê? Para fazer crer o quê?