Roberta Von Doelinger
"Sou carente, sou insone e quem quiser que me ature: Tenho uma mente perturbada e os dedos verborrágicos."
Você
"De tudo que já não me faz falta, você é sempre a exceção.
Tua presença é a essência dos meus epílogos
Das minhas prosas, preces e poesias"
Na linha da vida
Onde o tempo é tudo
Onde o tudo é nada
Somos simples passageiros
Desta triste
E longa jornada
Já sabemos
Que o tempo é veloz
Devorador do amor
E da sorte
Carrasco da vida
E mestre na morte.
Ingênuo
Ela entra
Ele observa
Ela mexe os cabelos
Ele suspira
Ela se aproxima
Ele se exalta
Ela passa por ele
Ele treme
Ela volta
Ele sorri
Ela parte
Ele chora
E o desejo
Ingênuo em seus olhos
Acusa seus 15 anos.
Grito
O corpo chora
A alma se dilacera
Tudo é insano
Numa dor
Infinita
E que a boca
Não cale
O que o
coração
grita
"Na boca um gosto de céu amargo,
Nos olhos, um leito seco de rio
Ao lembrar que depois de tudo
Só resta a saudade,
Como um lenitivo ou desvario"
"E ela, toda dele, vociferava amaldiçoando a saudade que fingia não sentir. Entre um gole e outro - e as cinzas de um cigarro que teimavam em não cair - abriu um pedaço amassado de papel e leu: 'Quero risos descomedidos, gargalhadas ébrias. Braços estendidos, abrigo, amparo. Quero mastigar madrugadas, devorar devaneios. Aquecer o sonho, brunir alegrias. Arrimar o amor, escancarar a paixão. Esfarelar a saudade escondê-la em cantigas. Deixá-la num soneto, num beco. Dar-lhe a língua. Quero vê-la morrer, no tempo, no vento. À míngua'. Guardou o rabisco, jurou que era poesia. Pediu mais uma dose de martini, caminhou até o balcão e caiu...em prantos."
Menina
"Muitas vezes encontro em mim
Uma adolescente querendo viver
Mas raras vezes olho a face dela"
Vinhoterapia
"Na confraria do tempo
Degusto emoções
Exponho sentimentos
Medeio aflições
Sorvo o mais seleto vinho
Ergo taças ao céu
Embriago-me de anseios
E lanço-me ao léu
No hálito quente
De lábios sem verbo
Tenho o silêncio como testemunha
E um shiraz por perto
A embriaguez que venha-me
De um modo voraz
E que faça-me companheira
No seu barco sem cais
Na manhã seguinte
Presto conta do meu ato
Tomando a certeira decisão
De ser cúmplice...de Baco
...
Muitos dirão que preciso de terapia
Quiçá um divã.
E com certeza eu iria,
Se em vez do café
Me oferecessem um Clicquot Ponsardin."
"As canções de Vander Lee e Zeca Baleiro têm o seu cheiro, minhas lembranças e a maresia de Vitória."
Perfeição contrária
"Se tudo fosse certo
O que haveria de ser aprimorado?
Amo cada ato falho,
Assim como amo
Os que praticam
Nada mais ingênuo e puro
Do que um ser completamente
Imperfeito."
[Para Aharom Avelino]
Um dia qualquer
"Um tédio quase obsceno
Uma vontade insana de fazer tudo
E outra insone de fazer nada."
Sem palavras
"O som do seu beijo
Sacia meus ouvidos apaixonados
E me coloca no rosto um incontido rubor"
Suportando
“É preciso suportar a chuva para ver o arco-íris”
Das cores que me invadem
Das dores que exalo
Dos tons que não acerto
Da valsa que não dancei
Das palavras que não foram ditas
Da angústia presa em mim
Da ferida aberta, exposta
De uma saudade traiçoeira
De um sentimento sem fim.
De um céu escuro
De uma orquestra sem som
De um passado obscuro
De um ser sem rumo
De uma triste constatação
De um filme que não vi
De um se que me atormenta
De uma rua na metrópole
De um amor que não vivi.
...
Que o sol que espero
Num céu claro
Que seja uma aquarela de vida
Repleta de sentimentos bons
Que mude as dores, que mude as cores
Que mude meu ser e todos os meus tons.
Olhos Vivos
"Me olhe nos olhos
Evite o soslaio
Seja verdadeiro
Intacto, certeiro
Seja você
Ou apenas tente
Crie improvisos
Saia da letargia
Viva, moço!
Viva, cada passo
Cada espaço
Cada dia."
"Vá pela direita
E deixe meu coração seguir
Findou o Nós
As amarras
Os laços
Já não me perco em seus caminhos
E nem mais me encontro em seus passos."
[Betta Doelinger]
Acordando o Silêncio
"Vou criar espaços, laços
Infiltrar sentidos, sentimentos
Explorar a mágoa, os enredos
Sabotar a dor, o engodo
Gritar de uma maneira insana
Despertar em mim a essência
O sono de um milênio
Uma felicidade ainda sonâmbula
Rastros de contentamento
Restos de risos, alegrias temporárias
Uma tênue oscilação
Colocando na seca boca o riso molhado
Acordando o silêncio em mim instalado
Saindo do estado de hibernação."
[Betta Doelinger]