Robert N. Test
Um dia um médico dirá que meu cérebro deixou de funcionar. E que, portanto, de certa forma, minha própria vida se acabará. Quando isso acontecer, não se esforcem em introduzir vida artificial em meu corpo através de aparelhos. Ao invés disso, doem minha visão a uma pessoa que nunca tenha visto o alvorecer, nem o rosto de uma criança e que nunca viu o amanhecer nos braços da pessoa amada. Doem meu coração a uma pessoa cujo coração não tenha sentido outra coisa em sua vida senão infinitos dias de dor. Doem meus rins a alguém que dependa de uma máquina para sobreviver. Descubram um modo de fazer uma criança paralítica caminhar por intermédio de meu sangue, meus ossos e de todos os músculos e nervos de meu corpo. Um dia, quem sabe, minhas células possam servir a um garotinho mudo e ele possa gritar bem alto o quanto ama alguém , ou ainda, por meio delas, fazer com que uma garota surda consiga ouvir o som da chuva na sua janela. Queimem o que restou de mim e que as cinzas sejam sopradas ao vento para, quem sabe, ajudar as flores a crescer e que eu possa ser sempre a brisa no rosto de quem sempre amei. E se você realmente quiser libertar alguma coisa, que seja então os meus defeitos, minhas fraquezas e todos os meus preconceitos contra meu semelhante. Se você fizer tudo que pedi, eu viverei para sempre em seu coração.