Ricardo Pinto
Até quando essa fantasmagoria e essa busca insana
Busca que cega, que encontra o que não busco
Resta-me a coragem para mostrar uma força que não é minha
Que me mantém de pé, lutando, expondo outra face
E esse desejo sem objetivo, com forte paixão, mas sem destino.
Uma grande alma à espera de um show sem plateia.
Não quero mendigar paz para minha dor, mas força para dominá-la
O refrigério é a certeza que uma hora tudo vai mudar
Quando a razão e a emoçao não se entendem, é hora de ser radical para uma das metades. Foram muitas decisões com a emoção, mas essa, por auto-defesa, será com a razão. Minha outra metade chora.
Não há buracos para tapar
Não era hora para te encontrar
Não planejava isso, não imaginava, nem em pensamento.
Mas o destino não me deu a escolha do momento
E você passou novamente...
Só tapamos buracos quando eles existem
Não há vazios para preencher
Só havia o medo de novamente você apenas passar
E eu, de novo, te perder... e perdi.
Mesmo sem você a travessia continua com a mais plena alegria
Levando a minha essência e a minha nova vida, navegarei por outros mares
E aportarei em outros portos sem a sua companhia.
Um olhar que transpõe minha alma
Um sussurro que acalma minha guerra
Ao seu colo deposito meus sonhos
E o meu último recomeço
Quisera ser a paixão primeira
E dar-te outra história
Mas consagro todo esforço para a transcendência
E lhe causar o grande enlevo
Se faço, é por ti e também por mim
És de uma beleza inquestionável, inspiradora,
O desenho raro, perfeito, absoluto
Que não se contempla, diviniza.
QUANDO AS ALMAS SE ENCONTRAM
Dei me conta do imaginário alcançado
Sustentado por sua doce presença
Esquadrinhei minha linha do tempo
Precedendo a sua personificação
Surgia por entre véus
Despontava na leveza de uma pluma
Brilhava num sonho adolescente
Alimentado pelo conto de quem me fazia fé
Cri na existência da alma gêmea
Amando-a desde sempre
Mas as estações rodopiaram
Sucederam-se procelas
E noites sem estrelas
Barco sem rumo
Fé a deriva
Fundeando porto franco
Mirei travessias
Busquei a maior aspiração
E encontrei mais, muito mais
Surgiu por entre véus opacos, em céu nublado
A pluma densificou-se, desmoronou
Mas uma pequena chama, ainda que sufocada
Perpetuava o sonho adolescente
E trazia o todo que não se espera, que não se imagina
Para renascer na maior de todas as auroras
Clarificando duas almas
Disfarçando-as em uma só.
Gosto de olhar nos seus olhos, bem lá dentro, sabe?!
É um olhar que escancara a porta da alma
Revela um sentimento que não se acalma
Vertendo um brilho que insiste ocultar
A mais refinada doçura que me faz inebriar
Contrapõe essa força que ora lhe é exigida
Mostrando-se doce e também destemida.
Se poeta eu fosse
Por certo lhe diria
Talvez em prosa
Mas nunca em verso
Que o caminho do poeta é perverso,
Que o sentimento, hora derramado em poesia
É o suor de suas dores
Buscando pela analgesia.
Metades
Tudo já foi metade
Meia luz, Meia taça
Meia volta, Meia Vontade
E volta e meia me perdia
As minhas loucuras
Nas suas curvas
Nas metades que me sobravam
Eu sempre voltava pela metade
A metade do seu beijo
O corpo era desejo
Mas a alma, prisioneira
Eram metades
Desejando ser inteiros
Beijos quentes, incendiários
Mas pela metade
Meias entregas, meias conversas
Verdades inteiras que não venceram o que era metade
Uma meia história
Uma história sem meio nem fim
Só um começo inteiro
Um beijo pela metade
E a metade de um beijo