Ricardo Maria Louro
ENGANOS
De saudade eu vou morrendo
Porque não esqueço o teu olhar
Ai de mim que vou sofrendo
Tantas dores por te amar.
E quem dorme no meu leito?
Quem se aninha no meu corpo?
Ai de mim perdi-lhe o jeito
Que palidez no meu rosto.
E neste mundo d'enganos
É tão triste o que se sente
Passa a vida em poucos anos
Quanto dói dentro da gente.
E agora fica a solidão
Nas promessas que fizemos
Guarda a dor em tua mão
Que em mim fica o que vivemos.
PALAVRAS INQUIETAS
Há palavras inquietas
A bailar na minha mente
É o sangue dos Poetas
Minha terra, minha gente.
Bailam versos nos meus dedos
Tempestade que me acalma
O que sinto é meu segredo
Bailam rimas na minh'Alma.
Eu não sei o que me prende
Ao desejo de te amar
A minh'Alma não entende
Se há-de rir, se há-de chorar.
E como baila a solidão
Há palavras inquietas!
Porque bailam sem razão
Nas Almas dos Poetas?!
HÁ UMA SEDE EM MIM QUE NÃO ENTENDO
Há uma sede em mim
Que não entendo!...
Como se pudesse sentir
Toda a secura das fontes
O grito amargo dos poços
O choro triste das pontes
E tantos, tantos remorsos!
Há uma sede em mim
Que não entendo!...
Sede imensa sem destino
Cujo o destino é dar-me sede
Uma sede que me turva
Que me impele no caminho
E me esbate em cada curva!
Há uma sede em mim
Que não entendo!...
É uma sede de infinito
É uma sede de verdade
Uma sede que vou sofrendo
Uma sede de saudade
Que no fundo não entendo!
VONTADE DEFINIDA
Ó Morte!
Quando vieres
Não chegues em silêncio ...
Quero sentir o toque
Da tua mão,
O gosto do teu beijo
Teus lábios em meus lábios
Adentro ao meu coração!
Ó Morte!
Nessa hora tão minha
Não oiças quem chora
Ou quem reza por mim
O que importa é a hora
Em que a Alma sozinha
Se vai embora por fim!
É este o meu desejo,
Ó Morte, deixa-me sentir
O travo amargo do teu beijo!
DOIS CAMINHOS
Vesti meu corpo de poesia
Quando na sina ma puseram
E dei à vida mais vida
À triste vida que me deram.
E deram-me dois caminhos
Um de rosas e um de dores
Mas nenhum desses destinos
No caminho tinha amores.
E vivi sem ter vontade
Num mundo que não existe
Casei depois com a saudade
De quem tive um filho triste.
E o Poeta é tão frio
E as flores tão espinhosas
Em mim só páira o vazio
Que há nos versos e nas rosas.
SAUDADES
Saudades ...
... da alegria que me davas
de quando me dizias
de quando me falavas
daquilo que sentias ...
Saudades ...
... trago-as aos molhos
escorrendo pelo rosto
Caindo-me dos olhos
deslizando pelo corpo!
Saudades ... muitas ... tantas,
como pedras, como lousas,
ocas, frias como campas ...
Quando eu morrer, não chorem,
Ponham antes,
Sobre o esquife que me alberga,
As mais belas flores que tiverem ...
DEI A MINHA VIDA
Dei a minha vida à Poesia
Aos versos, às rimas, às palavras,
Às imagens de poeta!
Dei a minha vida
Ao que nada me deu em troca...
Só o pouco da alegria dos instantes
Em que nasceram os versos
Que nunca quis nem desejei...
Dei a minha vida à Poesia
Aos versos, às rimas, às palavras,
Às imagens de Poeta!
QUEM ME QUISER
Quem me quiser amar
Que me aceite como sou
Fechado num mistério
Triste, frio e sério
Sem saber aonde vou!
Quem me quiser sentir
Que me sinta sem pensar
Quanto valho ou quanto sou
Pois a vida não medrou
No jardim do meu olhar!
Quem me quiser negar
Pois que o faça e faça já
Minha vida é diferente
Não sou igual à outra gente
Já não quero, já nem dá!
Quem me quiser esquecer
É um favor que me faz
Uma alegria que me dá
Ir-se embora que vá já
E me deixe SER em paz!
NINGUÉM VIU
Há saudades nos meus dedos
De quem passou sem ter passado
Trago dores e segredos
Em silêncios magoados.
Como a ave que partiu
Pra lugares além da vida
Fui tão só que ninguém viu
Que passei de Alma perdida.
Tenho as mãos presas ao vento
Como o vento preso ao mar
Como a vida presa ao tempo
Como o amor preso ao penar.
E agora as mãos fechadas
Trazem noites, trazem Lua
Trazem pássaros sem asas
Trazem sombras pela rua.
ANDORINHA
A Andorinha esquece o dia
Vai cansada de voar
Porque o sonho que perdia
Era ir além do mar.
Tanta vida por viver
Tanta rota por passar
E o que irá acontecer
Já não pensa em voar.
Nessa hora em que sofria
Pelo Céu silêncio e água
A Andorinha esquece o dia
Nos beirais da minha mágoa.
Ai que triste, amargurada
Já não voa, pobrezinha
Negra como a madrugada
Voa, voa Andorinha.
VAGA INQUIETAÇÃO
A noite era o silêncio dos teus passos
Tu não vinhas e era já de madrugada
A inquietude era o silêncio sem abraços
E afinal à minha porta não há nada.
Era o sonho de sonhar e de querer ver-te
Esperança vaga numa vaga inquietação
Quanto dói ao lembrar e ao saber-te
Lá longe tão distante em solidão.
És mais frio que a frieza que há na rua
Sou mais triste que a tristeza que me dás
Teu olhar vem do silêncio que há na Lua
Ou talvez da solidão que o vento traz.
Não encontro outro caminho além de ti
Não me sinto no calor dos teus abraços
Adeus que já não te quero como quis
Quando a noite era o silêncio dos teus passos.
Três coisas na vida jamais me tirarão:
Meus versos
Deus
E a mim de mim
De tudo o resto me podem despojar!
É indiferente ...
São três as palavras que me bailam nos sentidos ...
Três os pensamentos que me turvam ...
Três poços! Três punhais!
Porém, certezas:
AMOR NÃO VOLTES!!!
O Fado é espaço que meu espaço amplia,
Braços que meus braços aconchegam,
Olhos em que se perde o meu olhar!
Tino, desatino, destino, ilusão, desilusão,
A mágoa de um Povo, a Alma da Nação!
Se nasci ou vivi poeta, não sei, mas sei,
Hei-de morrer como os poetas,
Triste, só e vencido!
Só me resta aceitar o meu destino ...
Olhando o meu passado,
Sinto que não fiz tudo bem,
Porém, se voltasse atrás,
Faria tudo como fiz,
Porque se não, não era eu!
Pela vida, sempre desejei a Morte
Como um filho que gosta da mãe,
Porém, a Morte, tratou-me sempre
Como uma mãe que despreza o filho,
Nunca me deu guarida!
Perguntaram ao meu pai:
"_ Que é feito do seu filho Ricardo?!
Ele é um grande Poeta!"
Meu Pai respondeu:
"- Ah, pois ... Anda por lá ... A pairar pela casa!
Os mais iluminados
Estão pra lá deste mundo
E pensam que não fazem cá falta ...
Porque são tão fatalistas?!
Tem que ser assim?