Retta Rettamozo
joão de barro
de joão
de casa
barro foi feito caminho.
caseiro e
pedra
sentados
fazem sentido sozinhos.
quem teve
caso
com pedra
pisa com muito carinho.
que pedra
no meio
mais que pedra
é casa de passarinho.
não entendo nada
que não seja esse
momento
leve assim
leve o vento
leve-me sorriso
leve teu
tormento
Os ratos
estão roendo
teus sonhos
no meu armário
quem mandou
você
guardar tanto sonho otário
joga teus sonhos
no lixo
tira
o recheio de lá
sonhos não enchem
barriga
intriga
de quem não sabe
sonhar.
Era uma Abelhinha tão belinha
que pediu a Deus o que não tinha:
- Quero uma flor e uma amiguinha!
- Quero uma rosa e uma borboletinha!
Deus - que não era nenhum Papai Noel,
que realiza sonhos e desejos a granel -
Deus, que sabe de onde vem o mel,
deu para a Abelinha... espaço no céu.
Acostumada a voar com o pensamento
a Abelhinha se deixou levar pelo vento
aproveitando aquele doce momento:
- Se a felicidade não existe eu invento!
Deus gostou do que ouviu e fez um teste.
- No cacto e na lagarta a cor se manifeste,
entre espinhos a delicadeza mais rupeste
e a flor voe até a mais alta folha do cipreste!
Chamou a Abelhinha e deu o seu presente.
Que vendo a lagarta e o cacto tão contentes
sentiu pela primeira vez uma felicidade latente:
- O amor que a gente sente é amor diferente!
"Quem ama o feio leva cada susto" disse Millôr.
A abelhinha gostar da lagarta e do cacto não é pior
do que fazer do gato sapato ou espinho na flor?
- Na lagarta ou no cacto o que nasceu foi o amor.
Fale-me de amor!
Faça um gesto!
Que essa gostosa "matéria prima"
não fique só no verbo,
no sujeito ou predicado...
esqueça até da "rima"
e venha mais pro meu lado!
o dia que eu bem-te-vi
trago sempre comigo
foi mano a mano
esse trocar insano
de olhares e acenos
ideias e planos
foi coisa do destino
isso não se conquista
amiga é amiga
à primeira vista
O que há de pecado
No amor
Não sei não
Porque nasce o espinho
Sem dor
Não sei não
Para que tanto sangue
Não se zangue
Meu coração
Porque o verde não nasce
Na flor
Não sei não
Eu sei o que bate no peito
Eu sei o que gosto de ver
Eu sei o que é tão perfeito
Eu sei o que gosto em você
Preste atenção ao seu corpo e à linguagem das sensações e das emoções. Preste atenção para tocar de leve, levar além. Preste atenção ao abrir uma janela. Quando pular de body-junp na poesia. Preste atenção porque você está a um passo da primeira vez. Preste atenção ao brincar com fogo, porque na lagoa há sapinhos e na padaria assa pão. Preste atenção ao pegar alguém no colo. Preste atenção ao cheirar o corpo e aprisionar o instante. Preste atenção ao soltar as asas, preste atenção ao treinar o improviso. Preste atenção porque a amizade não é um amor sem compromisso e começa com o mesmo A de Amor. Preste atenção aos números. Era um, depois dois e era uma vez três. Preste atenção quando engravidar um poeta, e ser mãe de uma poesia. Preste atenção na resposta que já vem com a pergunta.
mergulhar bem fundo na lagoa rasa
é conhecer o mundo sem sair de casa
é voar mais alto sem abrir as asas
Uau!
Não mereço, não mereço!
Mas quero-quero.
Duas vezes, uma pra mim e
outra pra você.
é por isso que o passarinho repete:
quero-quero!
Bem-me-quer mal-me-quer.
Bem-te-vi quero-quero!
Duas vezes uma pra cada um.
Um para cada uma.
Plim-plim!
para o silêncio do poeta
quando você se cala o silêncio fala
canta o galo zumbe a abelha
mia o gato pia o pinto ruge o leão
quando você se cala o silêncio fala
a baleia bufa o burro zurra
o bezerro berra o bode bala ladra o cão
quando você se cala o silêncio fala
grasna o ganso o rato guincha
o cavalo rincha bate meu coração
quando você se cala o silêncio fala
a cigarra estrila a hiena gargalha
estalo os dedos e canto esta canção.