Renaly Oliveira

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Adorador de Hórus...

Um dia eu conheci um adorador de Hórus e ele via pelo olho ferido do Deus Sol, enxergava a virgem que o paria cujas máculas que não deixaram haver sobre ela, foram lançadas contra a humanidade, mas todos os outros preferiam se manter cegos, e esse deus perturbava seu adorador, que viu por bem que era melhor não mais adorar ninguém, foi se apegando ao nublar da vida e ao mistério da escuridão da noite, se fez neutro, e não achou mais motivos, e perdeu o verdadeiro riso, e colocou a máscara pra passar despercebido pela multidão, e não fez mais planos e esperou a morte, se entregou ao desamor, descreu da sorte e envolveu- se a solidão. E o acaso perseguiu o tempo, dentro de cronologias que os relógios não medem, quando o olhar do sol me incomodou, havia uma tristeza tão familiar, tão minha, que eu quis me aproximar, e esse acaso que parecia tão banal me trouxe pra mais perto de mim e o leva lentamente a ele, por lugares sombrios onde poucos passaram, onde não há caminho traçado nem trilhas a seguir, estendi a mão e senti o peso do repúdio de quem não quer mais procurar, sangrei lentamente até a morte deixei o fogo me consumir, pois sou Benu sigo ao altar e queimo por escolha pra me reerguer mais forte, e Osíris se apiedou por saber que não carrego comigo o temor da morte ou o medo da dor, e o adorador vai de encontro a ele mesmo, lutando sozinho, carregando todas as dores de antigos amores, criando um caminho parecido com o que eu seguia quando viva, antes da primeira morte, abra o olho adorador, a luz não cega quem nasceu com o olhar do falcão, e não se preocupe com a minha visão, eu enxergo muito além, não espero nada de bom de ninguém, sou filha da noite, filha única de uma virgem que foi abusada pelo mal da vida, por isso nascemos juntos em tempos diferentes, você teme por mim e eu não por você, cada dor nos torna mais forte, cada cicatriz torna a pele mais dura, e o coração, esse apenas pulsa, se a morte vier não nos assusta, não alimente dúvidas, atente ao que vou dizer, me perguntastes o que vi, a tempos não vejo, quem ao escuro se acostuma não confia no sentido humano da visão, vejo com o olho de Rá, meu olhar é parecido com o seu, os outros não nos enxergam porque pra eles não há o que ver, somos lenta leitura, de páginas completas de vazio, e mentes envelhecidas pela mesma direção, o deus está em nós, e ninguém é especial, porque no fim pra alguém todos são, e hoje me vejo amando-o de uma forma que me arrasta a cada dia para o reino de Seth, presa a um mal que se perpetua e ao qual eu já estou acostumada, prevendo minhas impossíveis possibilidades, sem crer em pequenas chances e sem medo do seu passado, essa é minha escolha e não queira destituir- me dela, é o que eu quero sentir até o dia em que o adorador mais uma vez siga, e eu precise novamente queimar pra matá-lo em mim, e talvez um dia entenda a minha visão, quando em meio a escuridão eu senti você. Um dia conheci um adorador de Hórus...

Inserida por AnaPaula21