Regina Navarro Lins
Ninguém se apaixona por alguém de carne e osso. Apaixona-se por uma ilusão, uma figura projetada, muitas vezes até um reflexo do que o próprio apaixonado gostaria de ser.
O amor romântico é regido pela impossibilidade. Quanto mais difícil, mais apaixonada a pessoa fica pelo outro.
Ainda não se produziu nenhuma substância química com propriedades afrodisíacas comparável ao estar apaixonado (da).
Apesar de a mulher ter se emancipado em vários aspectos, a maior expectativa que ainda hoje se tem em relação a ela é que seja mãe.
Saber que o outro depende de si, e que não vai fazer nada para não o perder, faz com que as pessoas não conquistem nem tentem seduzir.
As relações amorosas devem existir porque há prazer em estar junto, e não por necessidade. É importante que não haja a expectativa de fusão com o outro; cada pessoa tem que sentir inteira, e não uma metade buscando alguém para completá-la.
Quando falo em amor romântico, não estou falando de mandar flores, mas de um amor idealizado, irreal. Você conhece uma pessoa, idealiza e lhe atribui características que ela não tem. Passa a vida toda querendo mudá-la e, no fim, percebe que é impossível. Para piorar, o amor romântico prega uma grande mentira, que é “quem ama não sente desejo por mais ninguém”. Nessa concepção enganosa de amor, não nos apaixonamos pelo outro, mas pela própria paixão.
Até 5 mil anos atrás, os homens não sabiam que tinham participação na geração de uma criança. Para eles, a fertilidade era exclusivamente feminina. Durante milênios, a ideia de casal foi desconhecida. Viviam todos juntos. Quando os homens abandonaram a caça e domesticaram os animais, perceberam que, se as ovelhas se separassem dos carneiros, não geravam cordeiros; porém, após o carneiro cobrir a ovelha, nasciam filhotes. A contribuição do macho para a procriação foi, enfim, descoberta. E ela coincidiu com o surgimento da propriedade privada. O homem passou a dizer “minha terra”, “meu rebanho” e aprisionou a mulher para não correr o risco de deixar a sua herança para o filho de outro, caso ela pulasse cerca.