Regiane Raquel
Emoções que tagarelam dentro de mim. Bagunça, confusão, tropeço. Confundem-me. Sei exatamente o que quero, mas a razão me deixa míope diante do não conhecer o pensamento do outro. E esse vício de me culpar esconde uma vontade assustadora de me sentir segura. Mesmo parecendo embaçada e indecisa, não há nada que eu queira mais do que o estar por perto.
Trago comigo o que me faz erguida. Uma fonte de significações, pés descalços, flutuantes. Cabelos soltos e olhos fechados. A minha palavra escorre de dentro e transborda sentido. Tem poros, respira. E nesse escopo entre o que vejo e o que represento, sigo dançante por entre as letras da minha docilidade de enxergar o irreal. Sou brisa em meio às duras linhas do ser. Sujeito simples. Eu respiro poesia. Eu despejo os símbolos daquilo que (ainda) preciso entender. E na gramática da minha sede, o balançar dos signos ditam a servidão do meu dom. Sou letra e fonte livre frente à loucura da expressão. E na tolice de tentar interpretar a vida, faço palavra viva.
E voltamos a ser nós. Eu, você e a significação. E a minha loucura solitária de verão. Palavra minha. Entre nós existe uma adoração inata e devoradora. Maldição. E mais que todos os meus vícios, você acolhe o meu cansaço e a minha frustração. Enfeita a minha decepção com versos e não norteia nenhuma explicação. E somos. Poesia. Antes, expectadora da minha história indelével. Hoje, sujeito zombador das minhas dores.
E me percebo diante da tranquila fúria do vazio do nada. Louca em meio às confusões da razão e perdida no âmago da nociva paixão. Tenho uma imensidão de cal que escorre pelo interno da pele. Tenho um cotidiano desmensurado e uma tediosa noite, mesmo em dias de sol. Um pânico calmo na madrugada e uma ilusão desvairada (diferente) a cada amanhecer. E devoro sonhos. Esse punhal que fere passivamente o que eu chamo de talvez, quem sabe, um futuro. E transmuto em impotência serena frente à mim mesma. Nessa serva que inventa a dimensão do que nunca foi. Simbólica, temo meu encontro com o espelho. E sei o que existe atrás dele.... e, saber? Te garanto, nem sempre é bom.
Disjunção e articulação se encontram no meu regressivo referencial de escrita. A palavra me edifica e me torna una com a estética das significações. A representação é mero esforço para dizer o que não pode ser dito. E o discurso a chave mestra pro infinito. Não faço verso por fazer, faço caminho estreito rumo à imortalidade.