Ray Motta
Tenho uma inimiga. Talvez a pior inimiga que alguém pode ter. Essa inimiga é cruel, perigosa. Ela espera muito de mim. Ela cobra muito de mim. Para ela, nunca sou o suficiente, nunca estou e provavelmente nunca estarei boa o bastante para que ela me olhe e se orgulhe de mim. Ela nunca está satisfeita comigo, com o que faço. Se erro, ela faz questão de jogar na minha cara meu erro , de ecoar na minha cabeça que eu errei. Essa minha inimiga já me prendeu. Me deixou ali, amarrada, enrolada com uma corrente de medos, de anseios, de frustrações, de sonhos irrealizados. Minha inimiga me prendeu com tanta força, que meus braços e minhas pernas doem ; meu corpo está todo marcado. Sufocou, e sufoca. Aperta, machuca. Minha inimiga quer que eu seja perfeita, mesmo sabendo que a perfeição humana não existe. Quer que eu agrade a todos, mesmo sabendo que é impossível. Minha inimiga está me enlouquecendo, me deixando vazia , fria, chata. Inimiga minha, ingrata. Ela acha que não posso errar. Ela acha que não posso cair. Ela acha que tudo deve sair assim como no roteiro criado por ela. Ela, ela, ela. Inimiga, comigo briga, me insulta, brinca e critica. Ela bem sabe que as palavras que ela mesma disse ainda residem em mim, não consigo apagar o que meu coração não esqueceu. Prazer, minha inimiga sou eu.
Fico imaginando como você está. Onde você está e com quem está. Fico imaginando e criando cenas, pessoas que talvez nem mesmo existam. E me encho de tristeza, de medo. De te perder, de me esquecer. Fico imaginando o que faz agora. O que fez durante o dia, o que planeja para a noite. Fico imaginando o que fez quando não estive vendo. Imagino o que diz agora, se está ouvindo uma música, eu preciso saber. Não, não preciso. Mas quero. Quero demais. Assim como queria - e quero – fazer parte de tudo o que você faz.
1: Éramos amigas…
2: Sim, éramos…
1: Muita coisa aconteceu, né?
2: É, muita coisa…
1: Costumávamos fazer planos, lembra? Insanos…
2: É sim, bem lembro…
1: E aquelas nossas risadas? Cara, as melhores!
2: Concordo…
1: E mesmo tristes, estivemos juntas hein!
2: É,né…
1: Hoje somos o quê?
2: Meras…”desconhecidas”…
Me responda também essa pergunta : e se você ficasse cego, continuaria julgando as pessoas pela aparência?
Se até mesmo o céu que é tão lindo, brilhante e cheio de vida de vez em quando amanhece nublado, não espere de mim um sorriso e simpatia nos dias em que eu acordar de mau humor.
Eu disse “Coração, não se apaixone!” mas ele ignorou. Fez o contrário do que pedi, e facilmente se apaixonou. Agora, que sofra o tolo. Quem mandou desobedecer. Mas que egoísta é o coração! Ele bem que sozinho podia sofrer! Dependo dele, e se ele sofre, também estarei sofrendo. Que teimoso! Que tolo! Que bobo! E agora , o que estarei fazendo? Acredito eu que agindo da mesma forma que ele agiu : serei teimosa, irei ignorar aquilo que ele instituiu. Que se apaixone, que ame, que sofra, faça comigo o que quiser. Continuarei como sempre, fingindo que nada está a acontecer.
Raptaram meu sorriso e até hoje não consegui recuperar. Já espalhei panfletos, cartazes por todo lugar. Espero eu que um dia, o encontre e volte a sorrir. Mas de uma forma verdadeira, sem que eu precise fingir.
Às vezes o problema é simples, e mais simples, é a solução. Mas nós complicamos tudo porque damos ouvidos ao coração.
Se eu disser que sua ausência me fez chorar por várias vezes, não estarei mentindo. Se eu disser que sinto sua falta a todo momento, não estarei mentindo. Se eu disser que preciso sempre de notícias suas, não estarei mentindo. Se eu disser que sou capaz de te tirar de mim, aí sim estarei mentindo.
Nossa amizade foi como tomar uma xícara de café: demorei para tomá-la e, quando percebi, o café já havia esfriado. Quando quente, não aproveitei. Não o saboreei. O que me resta é a vontade de voltar atrás, de esquentá-lo novamente para bebê-lo agora, quem sabe, tão quente. Mas a verdade é que o café, mesmo depois de requentado, não terá o mesmo sabor. Não será mais como antes. Nem a nossa amizade.
Eu não escrevo para você, escrevo para mim. Para me libertar, para deixar registrado o que sinto. Se te deixo ler, é porque compartilho. Compartilho minha dor, meu sentir, meu querer. Mas saiba, escrevo para mim, e não exclusivamente para você.
Fico me perguntando diariamente o que sou ou fui para você. Se te causo as mesmas sensações, se ainda guarda as mesmas lembranças que eu com tanto carinho guardo. Me pergunto se você sente minha falta, se precisa de mim por algum momento. Se , pelo menos por um minuto do seu dia eu rondo seus pensamentos e roubo um sorriso bobo. Me pergunto se você pode me sentir, mesmo de longe. Me pergunto se você sabe o quanto é importante pra mim. Me pergunto se você perdoou sinceramente todos meus erros e falhas que, em momentos de raiva cometi. Me pergunto se as minhas palavas já te tocaram com a mesma intensidade em que as escrevi. Com os mesmos sentimentos, com os mesmos anseios. Me questiono tanto, e são tantas perguntas sem respostas…Só você tem essas respostas. Só você pode me esclarecer. Mas, em vez de respondê-las, você optou pelo silêncio. Um silêncio que dói, que me envolve e me deixa ansiosa pelo que há por trás dele. E eu espero. Espero ainda quebrar esse silêncio para responder minhas questões. Minhas tantas, tantas questões.
Sou de momento. Sou de música. Sou de companhia. Sou assim. E o que define como me sinto e como estou é o momento. A música. A companhia. Sou eu.
Hoje sou resultado das noites que eu passei chorando. Dos medos que tive, e ninguém viu. Dos anseios que foram abduzidos. Das vontades que não se concretizaram. Sou resultado de pessoas que eu tentei segurar na minha vida, mas que se foram. De instantes que, por mais felizes, tornaram-se lembranças. Sou uma soma de tudo o que passei. Sou resultado de tudo o que vivi.
Frio. Dedos gelados, pés endurecidos, abraço solitário. Frio. Barulho de chuva, cheiro de cidade molhada , sentimento de vazio. Frio. Árvores debatendo-se junto ao vento, carros e água correndo, em movimento , aspecto monónoto , sombrio. Frio. Céu nublado, brisa e tempo gelado, solidão, pensamentos, devaneios, mais de mil. São tantos significados dentro da palavra frio.
O frio traz os casacos que por tempos ficam guardados. Traz os cobertores, as meias nos pés. Traz o chocolate quente, o café para amenizar. Traz a carência, a imaginação flui. Ele me traz tanta coisa. Só esquece de me trazer você. Que desligado esse frio! Esquece do principal. Do que o tornaria perfeito. Do que me faria feliz.
Sozinha sou pouca. Sou um grãozinho de areia. E um grão de areia não tem lá tanta beleza. É quase imperceptível. Porém, se eu tiver sorte e encontrar pela vida pessoas e mais pessoas, grãozinhos e mais grãozinhos, serei praia. Serei muita areia. Aí sim não passarei por despercebido, nem me sentirei sozinha. Estarei cercada de grãos e juntos, formaremos um belo lugar, uma bela paisagem. Águas tentarão nos afastar, levar alguns grãos para longe. Pés irão pisar sobre nós, porém esses não nos afastarão. O vento poderá fazer com que alguns sumam, as chuvas podem tirar nossa beleza. Mas quer saber? Ainda não estarei sozinha. Nunca estarei sozinha. Porque sei que sozinha, sou pouca. Acompanhada, sou praia.