Raphael Montes
Não supunha que fosse ser feliz um dia. Sentia-se fadado ao limbo, a monótona rotina, desprovida de momentos felizes ou tristes. Sua vida era apenas um vazio preenchido por tímidas emoções. Seguia bem assim.
O pôquer simula a vida. Às vezes você perde, às vezes você ganha, mas o negócio é manter-se lá, jogando.
Sou seu termômetro de criminalidade, seu espelho de morbidez, sua bússula de loucura. Mas a verdade é que: se estivesse no meu lugar, você teria feito o mesmo. É fácil condenar alguém, pulverizar a responsabilidade, montar teorias e encontrar culpados.
Quando criança, passava noites sem dormir, as mãos trêmulas diante dos olhos, tentando desvendar os próprios pensamentos. Sentia-se um monstro. Não gostava de ninguém, não nutria nenhum afeto para sentir saudades: simplesmente vivia. Pessoas apareciam e ele era obrigado a conviver com elas. Pior: era obrigado a gostar delas, mostrar afeto.
Com frequência, tinha a sensação de que vivia num filme em que pessoas do outro lado do mundo o acompanhavam através de câmeras ligadas vinte e quatro horas por dia.
Se no mundo houvesse mais loucos, haveria menos violência.
Não escrevo a lápis para não poder apagar o que foi escrito. Nada deve ser omitido.
Pra mim, Bíblia é feito catálogo da Avon: só abro pra fazer pedido.
O ser humano é um bicho escroto por natureza. Não importa o que digam, todo mundo é assim. Rico ou pobre, negro ou branco, velho ou novo, não interessa. Somos todos iguais em escrotidão.