Ramon Pestana
Coisas da realidade
Sobre mim correm incertezas
As vertentes a se acreditar
Dissolvem-se (in)esperadamente
Ser prudente em atitudes
Ser fiel em princípios
São facilmente ridicularizados
A banalidade dos atos mais equivocados
A inversão do que é certo (ou ético) para o que deve ser feito
Passam a ser rotina em nossa mente juvenil (ou seria varonil?)
Quando as máscaras caem
Restam as marcas
Na face daqueles que dessa ideologia se diferem
Aparecem as manchas dolorosas do seu não escravismo
A moeda de troca está no ponto mais alto destes
Mas parecem enraizadas ao chão
Cravadas sem compaixão
E a verdade?
Vamos bater na realidade
Vamos seqüestrar a pequena liberdade
Vamos torturar a última igualdade
E agora José?
Onde estão os líderes da certidão, ou melhor, da rebelião?
Alguém os viu...
Sumiu!
Trajetórias
Durante algumas etapas em nossas vidas, ficamos sem orientação, as luzes que nos guiava dentre a penumbra da noite, parecem inesperadamente apagadas, o mesmo que dirigir numa estrada vazia e sombria com a presença total da escuridão sem ter faróis. O que nos conduzia parece se dissolver proporcionalmente com os segundo que se vão.
Numa dessas etapas, chegamos ao ápice da solidão, então esquecemos as correntes que nos mantêm entrelaçados às nossas realidades. Nesses momentos, todos os medos, fraquezas, fragilidades, aparecem e ganham dimensão. Hostilizados pela nossa própria covardia. Então somos pacientes de várias patologias, por já termos perdido todos os anticorpos que ainda resistiam.
Conseqüentemente nascem faces e interfaces, que anunciam a morte da nossa verdadeira identidade, surgindo personalidades que não se consolidam, apenas se moldam conforme as circunstâncias. Levando a nos associarmos a grupos que dêem a praticidade de copiarmos fielmente desde o estilo às suas aspirações, alheias ao nosso “EU”, isso por querermos ser vistos não como somos, mas como queremos ser, e como todos querem que sejamos. Fugimos de nós mesmos, corremos em busca de nos reinventar, nos pintamos de forma distante da realidade, e quando essa pintura foge dos limites do aceitável declara-se um “estado de guerra” contra nossas emoções, motivado pelo sofrimento de nos vermos realmente como somos, se quer então, escapar automaticamente de um pretérito mais-que-perfeito.
Nessa batalha apenas se padece, apenas se fere, apenas se suicida – a cada dia - um pedaço de nós mesmos é perdido, é esmagado em meio a nossa intransigência. As lágrimas é o sangue que incontrolavelmente jorra do nosso corpo e alma. A melancolia saúda o desabar das muralhas que estavam abaladas, porém erguidas, cedendo espaço para que feridas ainda maiores apareçam, perdemos assim a noção de tempo e espaço, o rancor é a resposta que damos aos vendavais que presenciamos.
Quando a guerra parece não ter um vencedor, a história não possuir um herói e o retrato da vida não ter uma imagem. Eis que ressurge um único sentimento, a persistência de acreditar que apenas nós, isso mesmo, apenas nós e nós mesmos, somos os únicos transformadores do nosso amanhã, e se caso não for, é melhor morrer de dor.
Durante toda a minha trajetória, ou melhor, nossas trajetórias, vemos a elasticidade dos comportamentos das pessoas que nos cercam, isso é difícil aceitarmos... Impomos as mesmas que siga um padrão por nós pré-estabelecido, as atitudes antes por elas tomadas devem coincidir com o que as nossas consciências analisam como “certo” ou “errado”, é como estarmos num constante júri, onde julgamos, poucas vezes absorvemos e muitas condenamos, massacramos. Somos cruéis, somos inumanos ou isso seria a plena forma de mostra o quanto somos humanos – confuso não é? -, mas tudo isso ocorre apenas pelo medo que sentimos de sentirmos medo, um medo tão feroz que nos assusta, e nos afasta de muitas (con)vivências... É o grande medo que assombra a humanidade, o da decepção, o da frustração. Por medo de acreditar e errar. Esquecemos que por lei biológica, somos passíveis ao erro, e são estes que projetam aos possíveis acertos. Então passamos a padecer do não confiar, em nada, muito menos em alguém. Todos os “alguém-ninguém” que nos assombra e nos conduz gradativamente à solidão. Mas nossas vidas parecem contradizer todas essas palavras quando nelas surgem alguns indivíduos capazes de nos amar, apenas sendo como somos. Quem são eles? Estes são os que nos retiram de qualquer afogamento, por um descuido casual ou por uma melancolia intencional. É como se eles trouxessem o chão que sempre buscávamos pisar, é aquele que te dá e não espera ter um retorno com maior intensidade, pois o simples fato de compartilhar o satisfaz. Shakespeare personifica esses indivíduos com total propriedade: “Uma pessoa é enorme para você, quando fala o que leu e viveu, quando trata você com carinho e respeito, quando olha nos seus olhos e sorri destravado. Uma pessoa é gigante para você quando se interessa pela sua vida, quando busca alternativas para o seu crescimento, quando sonha junto com você. Uma pessoa é grande quando perdoa, quando compreende, quando se coloca no lugar do outro, quando age não de acordo com o que esperam dela, mas com de acordo com que espera de si mesma”.
Eles são os companheiros de discussão, os cúmplices de aventuras, os coniventes em ficar numa praça conversando besteiras à noite inteira, de inventar um aniversário para se distrair e se unir ainda mais... São os amigos! Os nossos verdadeiros pólos de comoção e realização.
Ultimamente o nosso ciclo de amizades tem aumentado, procurei uma explicação lógica e não encontrei, porém como a vida por si mesma é um ilogismo, aceitei. Metaforicamente, os meus amigos são uma árvore - tão grande que se torna até difícil imaginar - e se essa árvore cresceu tanto é porque ela foi muito bem regada e sempre teve uma raiz forte para sustentá-la. Existem alguns desses meus amigos que estão nos extremos dos galhos, são os mais distantes, mas não deixam de serem amigos, existem também aqueles que a sustenta, são as raízes, os mais íntimos e aquecedores, fornecem do solo os nutrientes para mantê-la plena. Ainda estão presentes os que ficam no caule, que são os amigos em construção. Essa árvore admite uma única regra O RESPEITO, o mesmo respeito de também entender que ela própria faz parte de um ciclo e se o mesmo é burlado ela tende a perder galhos e ganhar folhas secas.
OSCILAÇÕES
Alguns homens sempre falam a frase: “- mulheres, não consigo entendê-las”. E estes não estão equivocados, pois conviver com as mesmas é ver explodir um misto de emoções e oscilações. É realmente inútil, tentar decifrar esse imenso universo de sensibilidade, força e fragilidade. Sua vaidade está sempre em ascensão, se sente feia, às vezes; quilos a mais, sempre. Entre cólicas e manhas. Sensatez e insanidade. Observar uma mulher é ver ela caminhar na dúvida cheia de certezas. È notar o entendimento que tem com as fases da lua, por ter também as suas. Inacreditável perceber o quanto cobram a perfeição mesmo já tendo a encontrado e ainda o quanto amam incondicionalmente e às vezes inconscientemente. Tamanha imprecisão; Qual será sua reação? Elas sorriem quando querem gritar, gritam quando querem chorar, choram quando estão felizes e ainda riem quando estão nervosas. Quando mãe, sente angústia, reza e chora, mas sempre à defender a sua ninhada; se eles bebem, se xingar ou se ferem...alguém o colocou nesse caminho, logo justiça a mãe. Essa mulher-mãe não dorme, cochila em alerta, se o filho não chega; quando bate ou castiga, apanha junto, meio a meio. Nada mais contraditório do que analisar uma mulher. Todas elas, as Eliane’s, Elaine’s, Vera’s, Rebeca’s, Priscila’s, Luciana’s ou Maria’s, da Penha ou não. São muitas vezes grandes pontos de interrogação. Mulheres duras ou fracas, mulheres de todas as raças, mulheres guerreiras, mulheres sem fronteiras, mulheres... mulheres.
Por isso tudo, não somente no dia oito de março, não somente no segundo domingo de maio, não somente no dia das avós, elas merecem destaque. Mostra-nos resistência nas adversidades da vida, ela própria é vida, tem vida e gera vida. Pois ser mulher já não é apenas um gênero: é um estado de espírito.
Incondicional
Stop!
A garganta cansou
A voz falhou
A vida empacou
Sim,
está na hora de mudar
melhor do que estar
é como tem que ficar
penso até em morrer
se acaso acontecer
não sei se vão perceber
prefiro nem saber
entre medos e tropeços
pouco lhes ofereço
infeliz busca do acerto
apenas padeço
é melhor fingir
do que se ferir
é melhor escapar
do que se arranhar
é melhor interromper
do que se querer
se ajoelhes a mim
agora pode pedir
não gosto de ti
some daqui
Não vou mais esperar
E se eu não encontrar
O que vou fazer...
Novamente morrer...
Então é assim...
Saio daqui
Me escondo ali
Só não me faz infeliz
E quando eu voltar
Quero para você olhar
Mesmo que eu tente escapar
Outro alguém escalar
Você tem seu lugar
PENSO EM VOCÊ
No fluxo dos meus pensamentos ao encontro dos teus
Apenas penso em você
Em ver teus olhos procurando os meus
Penso no seu amor
No que ele pode me proporcionar
Apenas penso no seu amor
Em todo instante me faz te amar
Penso na sua ternura
No que me faz flutuar pelas minhas emoções
Apenas penso na sua ternura
Em despertar em mim novas sensações
Penso no seu beijo
No que sonho com os teus lábios tocar
Apenas penso no seu beijo
Em envolver-me nos teus barcos pedindo para te reencontrar
Penso,
Na minha existência dependente da sua
No desejo gritante do meu corpo ao seu
No apelo da minha alma em fundir-se a sua
Na minha aspiração
Devoção,
Paixão,
Apenas em você que penso.
De onde vem...
Com certo toque de presunção
Sentia que apareceria
Mas o meu pensar não foi capaz de decifrar
O que ocasionaria a sua chegada.
Acredito que jamais conseguiria
E, se talvez, conseguisse, romperia esse futuro.
Drasticamente rasgaria qualquer rascunho presente
Que lançasse ao que estaria por vim.
E, para justiça, isso nem seria necessário,
Abdicar-me-ia da existência.
Destruir-me-ia sem qualquer resistência.
Chega dessas tentativas e ameaças fúnebres.
Todo esse discurso dramático,
Toda essa eloqüência desenfreada colide...
Choca-se nesse presente inimaginável,
Com os sabores provados.
Com os olhares trocados.
Com os beijos experimentados
E ainda,
Com as palavras, sempre elas,
Dominam-me, como uma brisa no anoitecer,
Soprada do mar, triste e frio. Ah! Como o compreendo!
Entrelaçando-me a alma,
Faz-me sentir toda sua solidão.
E continuo por ali
À espera do amanhecer
Com os primeiros raios,
Com o clarear de todo o breu.
Então, é quando vejo a tua aparição,
Resgatando-me dos meus medos,
Tirando-me do relento
Eis meu Alento!
Um sopro de vida sobre a constância inanimada.
O acalento!
Meu cobertor na nevasca.
Foi num simples olhar
Numa conversa informal
Num encontro casual
Numa noite fatal
Minha pulsação aumenta
Minha pupila dilata
Minha mente pára
Meu corpo fica inquieto
E debruço-me a entender tudo isso
Folheio revistas, e sua imagem salta a meus olhos
Ouço músicas, nelas viajo ao seu encontro
E lá está, esperando-me...
Sabendo de tudo que me faz vivo
E já não me permito mais nada imaginar
Mais nada querer.
Mais nada ser.
Só quero entender:
De onde vem...
Essa força indestrutível
Essa razão incompreensível.
Poema incognótico
Em versos personifico
Pois só em versos monto-me ao ufânico
Em estrofes clamo
Pois só nelas confronto-me ao aspirar
São através das linhas transcorridas...
Que me permito cravejar pelo que buscar
Que me permito traduzir noutro patamar
Nessas linhas mais que transcorridas, gestadas.
Ainda para além a ser, sentidas em alvitre.
Trazem em abertos fissuras, que dormiam logo a foz.
Fazem em retumba ecúleos.
Nascem e infecundam, todo campo espaço até longe vista.
Por ser verso, reclusa.
Palavra agrupada, danifica.
Por discursar em proposição-emoção, universaliza.
Tendem a abrigar-me ambigüidades.
Tendem a encobrir-me no manifesto irracional.
Lançam a sentir-me presente num solo nunca antes habitado.
E, por conseqüência, já não mais chego ao meu encontro.
O que é visto, é tido, o obscuro fundo.
Cada vez, ao fundo, afundo.
Jorra-se então de toda minha lírica um marejar.
Corre, foge, o tracejo da selva. (evito!)
Quando não mais o percebo:
Fundiu-se por gênese n’alma.
Também só, minha adjacente
[o que deveria ser parte simbiótica..
Volto ao escrever
Por não ser um risco, rabisco...
Ou um gerundiar cursante;
um particípio dissipado;
Eis um eternicídio submerso.
É eterno, posto que é vício.
É suicídio, posto que a morte é alternância.
Submerso, poucos apreciam, menos ainda, o sente.
Não mais se desinencia
Salta, imensuriza.
Escrever é jogar-se ao vulnerável.
É molhar-se de eu’s
é fazer do fônico-versado sinfonia apoteótica
Entrar em contato com o impalpável
Com o que não se vê, nem existe.
Com o que não se tem, tudo permite.
É se constituir e se ler de si, para si, em si.
É, sobretudo, invadir o sítio de interseção entre o transcendente e o imanente.
Implica, inegavelmente, no entrar em órbita, ao encontro mais profundo da perfeição.