Ralph Ellison
Eu sou invisível, entenda, simplesmente porque as pessoas recusam-se a me ver. Como as cabeças sem corpos que às vezes se veem em exibições circenses, é como se eu estivesse rodeado de espelhos feitos de vidro grosso e distorcido.
Ser invisível e sem substância, uma voz desincorporada, como foi, o que podia fazer? O que mais, senão tentar dizer a você o que efetivamente acontecia quando seus olhos não me enxergavam? E é isso que me aterroriza.
Quem sabe se, nas frequências mais baixas, eu falo também por você?
Quem se aproxima de mim vê apenas o que me cerca, a si mesmo, ou os inventos de sua própria imaginação – na verdade, tudo e qualquer coisa, menos eu.
Demorei muito tempo e muitas reviravoltas dolorosas das minhas expectativas até atingir um resultado que a todos parecia evidente: que não sou ninguém a não ser eu próprio.