Raimundo Correia
Raimundo Correia nasceu a bordo de um navio, na baía de Mogúncia, em São Luís, no Maranhão, no dia 13 de maio de 1859. Estudou o curso secundário no Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. Cursou Direito na Faculdade de Direito de São Paulo e, enquanto estudante colaborou com a “Revista de Ciências e Letras”, que se opunha aos ideais românticos.
Em 1879, publicou seu primeiro livro “Primeiros Sonhos”. A princípio, não é parnasiano, revelando influência de outros poetas românticos, como Gonçalves Dias e Castro Alves, mas já mostrava grande preocupação formal. É o mais filósofo dos poetas parnasianos. Procura solução para os problemas existenciais, tentando explicar a vida cheia de angústias e desesperos.
Com 24 anos, lançou seu segundo livro “Sinfonias” (1883), quando se torna adepto do Parnasianismo. Nessa coletânea, encontram-se as famosas poesias que o tornaram célebre, entre elas, “As Pombas”, “A Cavalgada”, “Americana”, “Mal Secreto” e “Anoitecer”.
Colaborou com jornais ao lado de Raul Pompéia e Machado de Assis. Com a República, foi nomeado Juiz de Direito em Minas Gerais Dedicou-se intensamente à carreira de juiz. Em 1897, foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras. Em 1911 viajou para a Europa, em busca de tratamento médico. Faleceu em Paris, no dia 13 de setembro de 1911.
Posteriormente ficou conhecido como um dos poetas de maior destaque do Parnasianismo, e compõe a tríade parnasiana junto com Alberto de Oliveira e Olavo Bilac.
Acervo: 9 frases e pensamentos de Raimundo Correia.
Frases e Pensamentos de Raimundo Correia
Mal Secreto
Se a cólera que espuma, a dor que mora
N’alma, e destrói cada ilusão que nasce,
Tudo o que punge, tudo o que devora
O coração, no rosto se estampasse;
Se se pudesse, o espírito que chora,
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse!
Quanta gente que ri, talvez, consigo
Guarda um atroz, recôndito inimigo
Como invisível chaga cancerosa!
Quanta gente que ri, talvez existe,
Cuja aventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa!
As Pombas
Vai-se a primeira pomba despertada...
Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas
De pombas, vão-se dos pombais, apenas
Raia, sanguínea e fresca, a madrugada...
E, à tarde, quando a rígida nortada
Sopra, aos pombais, de novo, elas serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bando e em revoada...
Também dos corações, onde abotoam,
Os sonhos, um por um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais:
No azul da adolescência as asas soltam,
Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles ao coração não voltam mais.
Se se pudesse o espírito que chora
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse.
Amor e Vida
Esconde-me a alma, no íntimo, oprimida,
Este amor infeliz, como se fora
Um crime aos olhos dessa, que ela adora,
Dessa, que crendo-o, crera-se ofendida.
A crua e rija lâmina homicida
Do seu desdém vara-me o peito; embora,
Que o amor que cresce nele, e nele mora,
Só findará quando findar-me a vida!
Ó meu amor! como num mar profundo,
Achaste em mim teu álgido, teu fundo,
Teu derradeiro, teu feral abrigo!
E qual do rei de Tule a taça de ouro,
Ó meu sacro, ó meu único tesouro!
Ó meu amor! tu morrerás comigo!
A Cavalgada
A lua banha a solitária estrada...
Silêncio!... Mas além, confuso e brando,
O som longínquo vem-se aproximando
Do galopar de estranha cavalgada.
São fidalgos que voltam da caçada;
Vêm alegres, vêm rindo, vêm cantando.
E as trompas a soar vão agitando
O remanso da noite embalsamada...
E o bosque estala, move-se, estremece...
Da cavalgada o estrépito que aumenta
Perde-se após no centro da montanha...
E o silêncio outra vez soturno desce...
E límpida, sem mácula, alvacenta,
A lua a estrada solitária banha…