Rafael Garrefa Silveira
Amor Alice, A Dor Alice
Amor próprio, é o que te sugerem
Quando no espelho, para ti mesma apontas o dedo
E as cores da roupa que vestes
Escorrem pelo reflexo da negação
O olhar do vizinho
Ora esnoba, ora caçoa
A senhora na fila condena, depravada
Fique ereta! Me perdoa
Mostra-me, Alice
De quem é o ofício de determinar
Quando há motivos suficientes
Para exerceres o direito de fraquejar?
A cruz, de braços abertos
Sempre esteve a sua frente
Conheça-te
E nega-te a ti mesmo
Mas é a vida que adotastes
Sob a pressão do julgamento destes
Como se escolhesse identidade
Do modo que compras bolas de sorvete
Surge, por fim, uma realidade
Eufórica
Te Promete Deus, o gozo e o mundo
Te encontra, aceita, abraça; é verdade
E toma de volta tudo em um segundo
Vi, ver
É rotina
Os altos e baixos
É a soma dos momentos
Basta só aquele
(é a falta dele)
A vida é mudar
Querendo mais do mesmo
A vida é o sentido predefinido
Pela loucura dos afetados
A vida é meio poesia
Escrita por algum ousado
Demasiado corrompido
Recitada em idioma estrangeiro
E ouvida por detrás da porta
Conteste o azul do céu
Morte de inocente
O destino do assassino
A naturalidade do caos, por acaso
A vida é contestar
O próprio contestamento
Que seja então
Quanto se entende de poesia?
Muito menos de vida
"Escrevi agorinha, aqui mesmo"
Ano de 94
De sinal positivo, corrido e ininterrupto
1994
Bruto e líquido
Sem pausa ou item dedutivo
1994
É quantidade, contagem, agregação
Ou um estado, característica, uma condição
Quem na época já era
O vídeo pausou
Quem só depois passou a ser
Uma foto ganhou
A mesma, hoje morta
Quente e mutável
Comeu a outra, viva
fria e estável
Até o presente momento
Eu existi com todas as coisas que existem
exatamente ao mesmo tempo
Por mais que se tente
Só convivo com meus contemporâneos
Não existe outrora
Porque toda hora é exatamente agora
Aqui, eu e você, agora
Juntos, não viemos
Separados, não vamos embora