Rafael Archer, Sarah Carvalho

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⁠A GAVETA VAZIA
Que bom acordar e ver a bagunça na pia
e perceber que a noite se fez completa
Procurar na gaveta a colher pra fazer o café
E não achar talheres limpos
E entender que a finalidade da existência é essa.
Lavar, renovar e repetir o processo, o aconchego , o amor, se faz com a casa revirada, coração tranquilo é a máquina de lavar batendo roupa as seis da manhã, é doação, é entrega.
O mais puro desejo é sujar a casa toda, acordar, se sentir grato e perceber que a vida reinicia no abrir do olhos.
E todo dia fazendo tudo sempre igual; se reiniciando, mas se reinventando e se refazendo, se reconstruindo, sabendo que está sempre inacabado, pois sábio é aquele que reconhece a própria ignorância.
A gaveta vazia é uma porta infinita, que se abre perante as possibilidades de se guardar algo; todo dia se coloca uma nova coisa na gaveta, se esquece um velho algo no fundo e se joga fora um atualmente absurdo antigo conceito.
As repetições do cotidiano são sempre um treino, uma tentativa, uma aposta num jogo de azar, um poker divinamente diabólico onde a gente sempre perde na mesma medida que ganha, onde a gente sempre esquece na mesma medida que lembra e onde a gente sempre acha na mesma medida que procura.
O cotidiano é onde se encontra o amor que a gente já tinha perdido no dia seguinte, porém que nunca se esvaiu. É na cama bagunçada, com a mola estourada, que a gente se aconchega e se deita no final do dia; é no estresse que, ao descansar, a gente se alivia e descansa, sem se lembrar da nossa louça na pia.

Inserida por RafaelArcher