psrosseto

Encontrados 9 pensamentos de psrosseto

⁠PAULO SÉRGIO ROSSETO lança mais 03 livros em 2020:

* Abelhinha PEQUETELLA
* FAZENDA HAICAIS
* POETA ENTRE COLUNAS

⁠HUMANO

No máximo te penso
Nem mesmo te ouço
Tampouco te chamo
Arrependo por esse letárgico processo
De abandono aos pedaços
É que apesar de poeta ainda estou insano
Insistindo mais do que minha idade é capaz
Preciso deixar de ser razão
Retornar-me humano sem utopia
Morrer não é mau
Se a vida não parasse
Eu nem partia

⁠TEU VENTRE

Teu ventre arde feito o sol do meio dia
Sobre as areias lisas
Sobre as matas densas
Sobre as aguas mansas
Sobre a solidão dos desejos
Teu ventre queima feito o gelo na pele
Teu fogo queima feito o olho da gente
Teu beijo é sol de fogo
E me consome impunemente

⁠EU TOCO UM INSTRUMENTO

Eu toco um instrumento belo
Pela forma e pela corda
De sopro ou fole que assopra
Que tange rebomba reverbera
Com a boca as mãos os pés
O coração
Meu corpo é esse instrumento único
Uníssono
Por vezes desafinado
Mas que ainda produz boa musica
Então todas as notas curvam-se a estes sons
Que a minha alma orquestra

⁠DEPOIS DE EXTINTA A HUMANIDADE

Depois de extinta por completo a humanidade
A miséria e a riqueza reconheceram duas verdades
Que jamais houvera de ambas necessidade
Que a necessidade extirpara pobres e fartos
Agora que deixara de haver míseros e abastados
Feneceram por terem impróprios se tornados
O planeta retomara seus brios e do caos se livrara
Como se refaz reconstroi e se renova o inabitado
De todos os insetos fora ele o mais nocivo
De todos os animais fora ele o mais perverso
De todas as tormentas fora ele a mais devassa
O mundo sim voltara a ser o centro do universo
Não mais aquele protótipo de deus chamado homem
Que sequer soube de si nem a origem da própria raça

⁠PERDOO

Perdoa-me Senhor
Pela vergonha que passo ante aos recém-chegados
Àqueles que agora nascem em meio aos destroços
Que se deparam com um circo desigual perverso
Permeado de egoísmo poluído desarmado e em pedaços
Perdoo-te porque me ensinastes o perdão
De toda mácula de qualquer culpa da má ação
Pois hás de admitir que nos perdestes por eterno
Quando nos desvencilhamos afugentados ensimesmados
E nada fizestes nem importastes com nossa fuga
E nada fizestes nem preocupastes com nosso medo
E nada fizestes nem revogastes nossos assombros
Agora Senhor que nossos sonhos chegam frágeis tão meninos
Desprotegidos como um dia aqui também chegamos
Poderias antes ter banido das nossas casas
Os embustes que é viver sem entender
Do que é a lida para encontrar bela morada
Sem o dolo das provações que nos assolam
Longe e livres dos males que nos denigrem estrada afora
Embora conheças nossas mazelas
E nada fazes para que delas nos livremos
Perdoa-me por ser minha alma tão pequena
E ante as vossas leis não fazer nada

⁠CERTAS VONTADES

Tenho certas vontades
Que ninguém acreditaria se as contasse
Tão inimagináveis que certamente surpreenderia
Mas o que seriam os anseios
Senão se evidentes o viço para a imaginação fértil
O alimento essencial da curiosidade alheia
No entanto tudo deixa de ser desejo
Quando calo as suas possibilidades
Ao primeiro pasmo que sobeja
Fervilha em mim qualquer coisa razoável
Dessas que instigam e incendeiam
Pelo simples fato de tornar-se exposta
Ante ao que sonho e vivencio
Há um abismo de considerações falhas
E é por elas que vivo buscando respostas

⁠VENTANIAS

Tão fraca essa chuva desacompanhada de vento
Proveio certamente de alguma nuvem dispersa
Fugidia da madrugada de alguma noite sem graça
Estanque sobre o telhado acima da minha cabeça
Não que não mereça que meu derredor se molhe
Com essa calmaria própria dos bem-aventurados
Porem estou acostumado a solavancos constantes
Tanto que me estranha tamanha bonança repentina
Sou eu afeito de trovões e ventanias da montanha
Que sacolejam e soçobram insanos restolhos de asas
Absurdamente inconstantes entre abas e serpentinas
Por isso a minha casa é de pedra incólume e bruta
Plantada sobre sólidos e poderosos alicerces da lida
Mas despreparada à suave nudez de uma brisa

⁠TRÊS LAGOAS

Era eu menino e moravam caudalosos rios à minha frente
Tão longos, intermitentes, profusos, infindos e soltos
Em cujas margens verdes de silêncio ouvíamos absortos
O passar das horas nos longos trens sobre os nossos brios

Era eu crescido em meio às desertas largas ruas de areias
Que de uma calçada à outra mal se ouviam os clamores do futuro
Incompreendíamos os porquês de tanta luz e a tatearmos no escuro
À procura dos sonhos que regessem as nossas jovens veias

Agora longe, atrás do tempo que escoara por aqueles trilhos
Ancorei meu barco num falso porto refestelado de saudades
Onde tudo é pedra, pressa, asfalto, agito, instância sem volta

Ainda existem rios porem não mais com as mesmas aguas
Permanecem as ruas mas estas ignoram toscas verdades
De que envelhecem os olhos mas as valsas ainda sonham-te