PQOGSPN!
Quase sempre me frustro com as minhas expectativas, por isso prefiro não ser tão otimista na maior parte do tempo.
Voltei pra casa e fiquei no meu quarto, deitado do mesmo jeito de sempre, olhando pros mesmos pôsteres de sempre. Não tinha fome, nem sono, nem nada. Mesmo as dores no corpo de antes, já tinham passado. Minha casa tava vazia, tipo eu. Tive a sensação de que se o teto caísse sobre a minha cabeça, as coisas melhorariam.
Por que as pessoas queriam tanto saber da minha vida? Principalmente de quem eu gosto ou já gostei. Ou todo mundo era romântico demais ou eu era algum tipo de psicopata, sem sentimentos. Eu não precisava ter ninguém comigo, e nem por isso eu era infeliz. Não tenho ninguém no momento sem ser os meus amigos, e tê bem assim. Tô muito bem assim.
A Alícia merecia mesmo que eu a tratasse de um jeito melhor. Não era culpa dela se ela tava a fim de um escroto feito eu, e o mínimo que eu podia fazer era trata-la bem. Não entrava na minha cabeça como uma guria que há pouco tempo nem falava comigo já tinha chorado por mim duas vezes. E nós nem nunca ficamos. Engraçado que a Alícia é toda espertinha, até bate nos caras em festa se for preciso, responde de um jeito atravessado, e tal, mas chora quando o assunto sou eu. Acho que a gente tava na mesma. No meu caso, sempre tenho resposta pra tudo, e tenho noção que desbanco quem eu quiser com as palavras, mas ficava sem fala do lado dela às vezes.
Ela parou de tentar me deixar mais preto que a parede, e voltou a rir. Era uma risada muito boa, cara. Tipo ela ria quando a gente ficava sozinhos antes. Definitivamente aquela tarde já tinha alcançado o seu propósito, que era de fazer tudo voltar ao que era antes, com a gente se sentindo a vontade um do lado do outro. Melhor que isso até: se sentindo bem. Ela tinha os dentes pequenos e bem certos, e o olho muito azul. A marca de tinta ficava perdida no rosto branquinho dela. Acho que ela percebeu que eu brisei olhando pra ela, e parou de dar risada aos poucos. Encostei a mão no rosto dela pra limpar, e deixa-la ainda mais bonita. Ela olhou pra minha boca enquanto eu fazia isso. Não pensei duas vezes, não pensei em nada, só beijei ela o mais rápido que eu pude, antes que acontecesse algo que a fizesse me odiar de novo.
Não ia mais faze-la chorar, não ia mais precisar ficar me segurando pra dizer certas coisas perto dela, não ia me arrepender de fazer nada que a magoasse. Tudo aquilo tinha passado, de repente. Ela seria só mais uma guria bonita que eu peguei, e que por ventura me deu dor de cabeça. Uma guria bacana, mas só mais uma guria, como todas se tornaram com o passar do tempo.
Thom: Porque tu é a minha namorada.
E aí ela me disse o que eu, no fundo, já sabia. Só não queria acreditar.
Bruna: Eu não sou tua namorada.
Ela não disse de um jeito seco, nem grosseiro. Pelo contrário, disse em tom de tristeza. Minha garganta deu um nó, que me impediu de dizer qualquer coisa que eu quisesse.
Bruna: Eu não sou há muito tempo.
Ela gesticulava tentando me explicar como se eu fosse um moleque de 5 anos cujo cachorro morreu, e a mãe não sabe como explicar o que aconteceu com ele.
Bruna: Tempo suficiente pra eu começar a gostar de outra pessoa.
Clarissa: Ninguém enche a cara na segunda-feira se não tiver um motivo.
Thom: Eu tenho: vontade de ficar bêbado.
Sempre tem alguém com quem tu se sente bem conversando, não importa o assunto, não importa a hora, não importa nada, só a pessoa com quem tá conversando contigo. Às vezes, essa pessoa não precisa nem exatamente conversar contigo, só te ouvir. O fato é que, com ela, tu se sente melhor.
O Luc respeita o silêncio dos outros, e isso é muito admirável. Não sei porque as pessoas insistem em falar tanto, o tempo todo. Um momento desses tem muito mais cumplicidade do que se ele tivesse ficado me dando tapas nas costas e me consolando.
Luc: Quantas coisas tu já fez de errado só hoje?
Olhei pra ele. Muitas. Já acordei errado, sou errado, to no lugar errado, hora errada, fazendo tudo errado, sempre.
Fred: Tu prefere coca quente ou água sanitária?
Matt: Coca quente, óbvio.
Fred: Coca quente ou água de danone?
Matt: Água de danone?!
Fred: É, quando tu abre o danone, aí fica aquela água em cima. Água de danone.
(...)
Fred: Água de danone ou água de bolha?
Eu: FRED, CALA A BOCA UM POUCO!
Se minha vida fosse um filme, depois da formatura os créditos subiriam na tela. Era mesmo um futuro bem incerto, mas eu não tava a fim de pensar naquilo. Uma das poucas coisas que ouvi meu pai dizer foi que a nossa geração nunca pensa muito longe, só na semana que vem, no amanhã, na festa do sábado. Talvez ele estivesse certo, mas quem se importa?
Se tu não for minha namorada, então não quero que tu exista, cara. Não dá pra saber que tu tá por perto e não te ter perto de verdade.
Fred: Escolha viver, escolha um emprego. Escolha uma carreira, uma família. Escolha uma televisão enorme, lavadoras, carros, CD players e abridores de latas elétricos… Escolha saúde, colesterol baixo e plano dentário. Escolha uma hipoteca a juros fixos. Escolha sua primeira casa. Escolha roupas esporte e malas combinando. Escolha um terno numa variedade de tecidos. Escolha fazer consertos em casa e pensar na vida domingo de manhã.
É engraçado como eles mostram os produtos de um jeito que te faça sentir que precisa deles. É pra isso que as pessoas trabalham. Pra comprar umas coisas idiotas que nunca vão usar. Não sou uma das melhores pessoas que conheço, mas tenho orgulho por não dar a mínima pra esse bang de dinheiro.
Acho que falta um pouco de tragédia na vida das pessoas pra elas começarem a ver o que é não conseguir viver sem tal coisa.