Pollyanna Guimarães
Eu vivo achando o que não procuro
e procuro achar o que acho que preciso
Por andar sem rumo vivo perdido,
e me perco do mundo achando estar perdido...
Por que nem tudo é verso, nem tudo é prosa
Mas por mais incerto que seja
Que seja minha
Que seja nossa
A palavra dita encanta, fascina
se desfaz no vento e perde a rima.
A palavra escrita se eterniza
resiste ao tempo e ganha mais vida.
Me acho no passo
em meio ao compasso
Entre pulos e passos
eu dou mais um salto
Por muitos caminhos
por mim percorridos
Procuro um cantinho
passinho por passinho!
Não é que eu sempre veja o lado bom das coisas,
é que eu realmente acredito que tudo sempre vai dar certo!
A vida
Então a vida se apresenta, inteira e verdadeira. De boa, bem boba, de brincadeira.
Então brincamos, brindamos, dançamos. Pulamos de fase, de base, de idade.
Andamos na onda, por conta, de bamba. E o tempo passa, se arrasta e acaba.
E nós?
Nascemos? Sobrevivemos? Acabamos?
Pensamos ter tempo e meios de ao menos vivermos para sonhar e realizar.
Mas perdemos tempo, chances e anseios, por medos tolos cheios de receios que matam o que somos e nos tornam insatisfeitos.
Andar de mãos dadas, sentar na calçada, sorrir para o nada, não custa nada!
Vivemos tentando achar o perfeito e manter as aparências a qualquer preço.
Por uma mania que nunca termina de mostrar para os outros uma vida vazia.
Quando o dia termina e a luz se apaga o travesseiro ajuda a apagar toda a mágoa, imaginando como seria essa vida vazia sendo preenchida em todas as áreas.
Em meio aos sonhos a realidade se vai, dando espaço para o que nos atrai.
Perdendo o medo e esquecendo o perfeito, apenas querendo o que nos é de direito.
Acordar e vencer! – Eu pago pra ver.
Se no amanhecer à preguiça ceder.
Mais um dia começa, alerta e com pressa.
E o medo retorna, com força e desola.
Por dentro a esperança, enrolada em lembranças, apenas descansa.
Esperando a hora de sair mundo a fora e assumir liderança.
Vamos lá! Mete banca! Mostre quem manda!
Guie os passos dessa corda bamba!
A vida é assim: medos enormes e sonhos sem fim.
Se deixe levar pelo simples sonhar.
Não perca mais tempo, viva o inteiro, chega de meios e desculpas a dar.
Seja feliz, suave e pleno.
Que a vida é anseio e o mundo é pequeno!
É normal ter medo. Eu diria até que é bom. O Medo é o freio da vida. É ele que impede que nos lancemos ladeira abaixo sem proteção, sem planejamento, sem noção. É ele que nos faz pensar antes de agir. Que nos faz abrir os olhos e mirar em novos objetivos.
Que este medo do novo nos ajude a olhar para frente com cautela, mas que não tenha poder de consumir nossas mentes e paralisar nossas mãos.
Não gosto de tampas
Tampas de cremes, de pasta de dente, tampas de rosca. Tenho um sério problema com esse tipo de tampas. Me nego a fica rosqueando aquilo. Geralmente, ou quase sempre, com pressa, encaixo errado e preciso recomeçar. Tirar a tampa torta, encaixar na posição correta e, com calma, girar até fechar. Aff! Pra quê? Gosto das tampas que a gente impulsiona e “plic”, abre. Aperta e “plac”, fecha. Tão bom, rápido e fácil!
Mas há aquelas que não tem como substituir. Tem que rosquear. Por diversas vezes não rosqueei a tampa de Toddy. Imagina o que aconteceu, né?! Na tentativa de pegar o pote pela bendita tampa, acabava ficando com ela na mão, vendo o pozinho marrom se espalhar no ar até chegar ao chão.
Eu conheço o processo de fechamento da rosca. Mesmo assim, EU não rosqueei. Eu deixei a tampa solta. Eu assumi o risco de deixá-la solta. EU não terminei o que havia começado. EU...
Agora é preciso que eu pare tudo e recomece.
Quantas vezes sabemos das consequências de não encerrar aquilo que começamos? De deixar processos inacabados, incompletos, “destampados”... Ainda assim, deixamos. Ficamos com raiva das “tampas”, quando, na verdade, a culpa foi nossa por não termos feito o que deveria ser feito. Culpamos o mundo pelo Toddy espalhado no chão da cozinha. Limpamos tudo com a força da raiva. Salvamos o pouco do achocolatado que ficou no pote, então, ao fechá-lo novamente, agredimos a pobre da tampa com tanta força e raiva que talvez ela tranque e não se abra nunca mais.
As roscas continuarão a existir, processos precisarão ser terminados e nós continuaremos aqui – gostando ou não – tentando encerrar tudo aquilo que começamos. Encontrando meios de dar um fim a todas as rocas que tomam nosso precioso tempo.
Ainda estou aprendendo a lidar com as roscas que aparecem na minha vida, mas, hoje em dia, faço questão de rosquear até o fim. Só para não ter que limpar o Toddy espalhado pelo chão.
Pollyanna Guimarães
Cachoeirinha, 5 de janeiro de 2019.