Philippe Besson
Loucura de não poder demonstrar nossa felicidade. Uma palavra pobre, não é? Os outros têm esse direito e o exercem, não se privam dele. Isso os deixa ainda mais felizes, os enche de orgulho. Mas nós somos atrofiados, comprimidos, em nossa censura.
O amor só foi possível de acontecer porque ele me via não como quem eu era, mas como a pessoa que eu me tornaria.
Ele diz que não aguenta mais ficar sozinho com esse sentimento. Que isso o machuca muito.
Sei que gostaria que as coisas fossem diferentes, que eu dissesse palavras que lhe dessem segurança, mas não posso, e, de qualquer forma, nunca soube usar as palavras.
Quis escrever só para contar que fui feliz nesses meses que passamos juntos, que nunca fui tão feliz, e que já sei que nunca mais serei tão feliz de novo.
Aqueles que não se arriscaram, que não se entenderam harmoniosamente com sua natureza profunda, não são necessariamente medrosos. Talvez estejam perturbados, desorientados, perdidos como alguém se sente no meio de uma floresta muito vasta, muito densa ou muito escura.
Eu poderia me arrepender se tivesse tido escolha. Mas eu não tive uma.
A gente se acostuma com tudo, inclusive com a deserção daqueles a quem pensávamos estar ligados para sempre.