Persio Borghi
"Um barco à deriva no meio de um oceano, segue um rumo totalmente determinado por suas correntes e principalmente pelas tempestades influentes, o ente independente de suas vontades é atravessado pela impessoalidade, percorrendo seu destino na segurança do estabelecido. Apropriar-se desse modo-de-ser é trazer a compreensão a inércia do movimento, é sentir um lampejo de angustia, onde o desiderato de retomar a direção do leme, faz com que suas escolhas sejam ressignificadas., dando um novo sentido, avocando um poder-ser".
Ao caminharmos por experiencias diversas, temos a percepção de um controle do vivido, da segurança de si mesmo e principalmente de uma apropriação de individuo totalmente indeterminado, com uma pessoalidade própria. Entretanto, quando nos deparamos com um experienciar inaudito, o qual se manifesta sem uma compreensão conspícua, clara e inteligível, onde o controle e a segurança são apenas falsas ilusões criadas pela determinação da impessoalidade de um vivido plenamente definido e estabelecido. Todo este contexto afirma que somos vulneráveis ao ponto de não compreendermos o que sentimos e nem o que desejamos. Talvez são essas incompreensões que nos trazem de volta a vida e precipuamente que nos oferecem o fenômeno mais estonteante, o ...!!!
Talvez o humano passe uma vida procurando compreender o que está sentindo, tentando nomear o vivido dentro de suas capacidades interpretativas, deixando de se apropriar do experienciar, onde o equívoco é mera confusão incompreensiva, é o medo de perder aquilo que não se possui, distancia o olhar cada vez mais de si mesmo.
Sabedoria é desfrutar de uma vida autêntica, deixando de habitar uma impessoalidade, apropriando-se de sua própria existência.
"Por mais rígida e resistente que uma rocha seja, o mar em meio as tempestades e marés, acaba interferindo em sua forma, como se em meio a uma tela em branco, o mar fosse pincelando, esculpindo, dando forma, determinando aquele ente intramundado em cada encontro com suas ondas. Nós entes privilegiados, somos determinados desde o nosso lançamento ao mundo, contudo, em meio as experiências do vivido, temos a possibilidade de escolher, se iremos continuar sendo esculpidos ou seremos autores de nossa própria história".
“Por vezes me vejo totalmente preso, amarrado e inerte a própria existência, como se mesmo atado, mergulhasse em um poço escuro, e de suas profundezas percebesse que talvez as possibilidades se findassem naquele momento, contudo, em meio àquela turvação inquieta, começo a questionar o momento existencial que me atravessava, este movimento me proporcionou enxergar um pequeno ponto de luz a minha frente, e isso me causou estranheza e medo, visto a claridade que começava a ofuscar os olhos, os quais se acostumaram com a segurança da escuridão, entretanto, decido caminhar em direção daquela possibilidade e ao toca-la, sinto o quão ela é quente e intensa, percebo que esta experiência, me permitiu atravessar diretamente a minha própria existência. Desse modo, compreendo que ao me debruçar em um olhar reflexivo mais demorado sobre as questões existenciais, um horizonte de possibilidades se constitui, permitindo experiênciar uma vida mais autentica, onde a liberdade é mera escolha possível”.
“Estar na presença do outro, por vezes é estar desconectado daquele ente privilegiado que está de fronte para sua existência, deixando de experiênciar os fenômenos manifestos da relação aparente, em virtude da inquietude das ocupações que o atravessam”.
“Em meio à multidão, fico procurando seu rosto em cada pessoa que ali transita, me pego a refletir sobre aquele movimento que me atravessa, buscando um sentido para este impulso, me questionando o que de fato tanto procuro em meio àquela imensidão humana, então mergulho o mais fundo possível em minha existência, empregando um olhar mais demorado na questão aparente, a qual me possibilita por um instante ser atravessado pela angustia, a qual me proporciona uma possibilidade de compreensão, onde esta me conduz a uma dicotomia profunda e intensa, o que tanto procuro, nada mais é aquilo que não quero encontrar, e este conflito me faz evocar que aquele rosto, olhar, toque e cheiro que tanto procurei, nunca mais encontrarei, visto as tempestades e mares que já se passaram durante todo esse tempo, e que talvez essa luta entre a esperança e o medo, não passe apenas de velhas lembranças”.