Pensamentos que traguei
Nunca tinha parado para pensar no real significado daquele pedaço dobrado de papel. Outrora era só mais uma folha em branco, guardada junto a outras 500 iguais em um pacote.
Não entendia o que ele representava quando o ganhei de uma pessoa especial e continuei sem o entender quando o queimei junto a outras lembranças de um passado não tão distante que, apesar de sombrio, guardava em uma parte especial da mente.
Pedaço esse que tinha a forma de um coração, dobrado uma parte de cada vez, construído assim como se constrói o amor.
Hoje, escrevendo essa carta, me pego a imaginar no que pensava enquanto o dobrava, o que sentia? É um exercício inútil de mais para me aprofundar, pois existem tantas possibilidades que não caberiam em uma carta e nem se quer em um livro de mil páginas. Mas se eu fosse resumir, acho que amor.
Tu me deste em minhas mãos o fruto de um sentimento, eu o guardei por tanto tempo, por tantos invernos onde podia sentir a gélida mão da solidão pesar sobre meu peito, guardei até mesmo depois de não fazer mais sentido algum tê-lo em minha posse.
Nunca entendi o significado daquele papel dobrado.
Lembro-me que por cima de tantas dobras, havia ali uma flor que também nunca soube identificar, mas apesar disso, me pego pensando em como foi colher no jardim. Penso até no real propósito disso! Poderia apenas ter me dado aquela dobradura que eu iria amar de todo modo, mas para você não foi o suficiente, desceu as escadas de casa, andou por algum jardim e escolheu uma flor, uma única e específica flor! Por que aquela? E não outra qualquer?
Enfim, já disse para mim mesmo que não posso pensar de mais nessas coisas, pois eu vou longe, tudo o que eu preciso agora é de manter os pés no chão e o mais importante: a cabeça no lugar.
Nunca entendi o significado daquele papel dobrado, mas se eu me permito imaginar, posso então lembrar de todas às vezes que me olhou e sem dizer nada eu sabia que tudo o que queria, era poder amar.
Amor… Esse que se foi com o vento, levado sem dó pelo tempo.
Amor era o que aquele pedaço de papel representava.
Éramos como um barquinho de papel, moldados do início ao fim para velejar apenas em uma rasa poça d'água.
Fantasiei nós dois no incessante exercício de pisar no real,
sou o eu lírico do meu mundo irreal ideal.
Fugi do amor para viver
em um mundo mudo
cheio de silêncio que fala.
Forjado por memórias
de um pretérito
mais-que-perfeito.
Como era bom poder amar,
deixar o amor nos tocar.
Me faz pensar se
ainda existe um jeito.
Poetizo-te hoje, na esperança
de te encontrar de novo.
A fase da minha existência
na qual vivia pela
inconsistência, parte do
processo de amadurecimento
da consciência.
Dou de cara com a presente
realidade e, por um momento,
vem a saudade que em breve
voltará, sem mais nem menos,
em outra ocasionalidade.
Vi o amor tão distante quanto
a fumaça que meu cigarro
exala, que acaba com uma
última tragada vazia, intoxicada.
Não há hora melhor pra
te tragar em minha mente,
o desejo latente então toma
forma, as horas que pareciam
paradas, começam a se
movimentar.
Ascendo mais um,
e a fumaça que via longe,
me mostra de perto
dias maisencantadores.
Lembro do primeiro beijo.
Mas me bastava o instante
antes dos teus lábios
tocarem os meus.
Do último eu não lembro
bem, mas se eu soubesse
que acabava ali, teria feito
tua boca de refém.
E desse encontro só
sobrou um conto sem ponto.
Por isso, escrevo saudade
vazia em uma pequena poesia.
Versos tão tangíveis que posso
senti-los em minhas mãos.
Instantes que se dissolvem
em horas a ponto de não perceber
que o dia já está para amanhecer.
Quando me dou conta do que dizer,
acabo por escrever minha sina:
O tempo não comprou passagem
de volta, hoje sou eu sem você.
Vivo através dos reflexos,
o não palpável se torna um
mero detalhe quando o assunto
é fantasiar. Para te encontrar,
basta imaginar.
Eu não sou o que escrevo,
sou o que imagino através
da escrita.
Apenas um contador de
histórias que distorce a
realidade a sua vontade.
Um poeta? Um canalha?
Só sei que carrego junto a
mim um universo idealizado,
que por fim torna-se um
sonho realizado.
No mundo da fantasia o limite
é só mais uma ilusão para quem
tem medo de imaginar.
Cá estou eu, ascendo o
quarto cigarro consecutivo
e anseio pelas palavras
certas escrever, como se
isso fosse me fazer esquecer.
Não penso mais tanto naquilo
quanto antigamente, mas,
ainda é como aquele livro
na minha cabeceira que nunca
termino de ler, parece me olhar
com um tom de julgamento e
eu escolho ignorar e
deixar para outra hora.
Nesse momento a fumaça
preenche meu pulmão, bato
o cigarro no cinzeiro e lembro
de quando era teu meu coração.
Cadê o isqueiro? Não quero
me entorpecer de uma mera ilusão.
Virar a esquina e dar de cara com aquela rua é como ver um portal para outra dimensão, essa que só existe na minha memória, essa que se materializa em forma de dor física ao lembrar, ao imaginar todas às vezes em que lá passei e senti como se tudo valesse a pena, como se a cada passo, me levasse para o lugar que eu realmente queria estar, ao seu lado.
É como andar sobre a linha fina que divide dois mundos completamente diferentes um do outro. Como se, ao mesmo tempo que o vazio e a certeza da solidão momentânea me consumissem, eu pudesse sentir a sua presença ali, como tantas outras vezes tive.
No meio do caminho, eu olho para trás e consigo ver a primeira vez que ali passei, com o coração acelerado, ansioso para te conhecer. Olho para frente e vejo a última vez na qual eu te abracei com um singelo e triste adeus, com a promessa de nunca mais te ver.
Ao final daquela rua coberta de memórias, eu fixo o olhar no horizonte e, com peso no coração, sigo em frente para não cair de novo em uma ilusão.
Ah, quem me dera ser o verso que a fascina!
Só tive tempo o bastante para guardar seu sorriso na memória,
somente o toque etéreo das possibilidades.
Apenas um poeta, um cigarro e um céu estrelado,
palavras brilhando por um instante, perdendo-se na vastidão, como as estrelas.
Escrevo, na esperança de que alcancem alguém,
ou, na melhor das hipóteses, a mim mesmo.
Mas, no fim, são apenas palavras, palavras, palavras…
A fumaça se dissipa, e eu me pergunto: algum verso escapou?
Talvez eu tenha passado por lá, na inocente vontade de querer te encontrar. Mesmo sabendo que já não está mais lá, mesmo sabendo que isso pode machucar.
Ver a recepção me faz pensar: será que essa não pode ser a minha nova memória favorita? Ao invés de só lamentar, sobrepujar uma memória na outra. Sorrir ao pensar em como subia as escadas do prédio só para ver teu olhar brilhar.
Talvez eu nunca mais suba aquelas escadas de novo e seja só algo em que vou me lembrar daqui a alguns anos.
Mesmo assim, é bom lembrar.
Talvez eu devesse procurar outras escadas, fazer novas memórias.
Talvez um dia eu esbarre em você em alguma escada da vida, alguma rua logo após sair do bar, igual a essa aqui.
Mais histórias para contar.
A noite cai e então vejo os fantasmas que moram no escuro, os que guardam as memórias, os que tiram meu sono e me deixam acordado.
Acendo um cigarro e penso em cada detalhe, conversas inteiras como se ainda estivesse acontecendo aqui, nesse exato momento, nesse ínfimo espaço de tempo onde tudo parece fazer sentido de novo.
Sobre o que vou falar?
Não tenho nenhuma inspiração.
Após centenas de versos dedicados a ti, parece que escrevo em vão.
Procurei em tantos outros olhares algo que me lembre o teu,
algum que me fizesse imaginar se quer uma possível paixão.
Sobre o que vou falar? Não tenho nenhuma inspiração.
Amores antigos? Não...
E quando sinto transbordar, acendo mais um cigarro.
Transformo em fumaça toda angústia, jogo as cinzas ao vento, no tempo.
Um dia a gente há de se encontrar.
Quanto tempo faz? Talvez isso nem importe mais.
Hoje, como ontem e anteontem, me pego com um cigarro na mão a pensar, pode parecer que não, mas, fumar é só uma das maneiras que encontrei de suspirar. Vícios.
É difícil esquecer quando os momentos bons foram com você, tenho em mim toda a saudade que esse amor merece ter.
Talvez um dia isso tudo faça sentido, ainda não entendi o porquê de não ter
sido você.
Por que você? Por que essa saudade? Não a vejo, mas se fecho os olhos, consigo ver como tudo deveria ser.
É difícil escrever sobre o vazio, afinal, não tem muita coisa lá.
Um vão no peito ou na mente? Não acho que seja físico, eu o sinto de outro jeito.
Talvez eu devesse escrever sobre outra coisa, ou talvez eu nem devesse escrever.
“Talvez” Gosto da palavra, a certeza da incerteza.
Ela vem acompanhada com um encosto, solidão emaranhada entre suas 6 letras. Desta não sou muito fã, eu me deparo com ela toda manhã.
Ela afunda meus pensamentos em um mar agitado, me fazer cair no esquecimento, esquecido até pelo tempo.
Vi o sol nascer tantas vezes que me acostumei,
meus olhos só se fecham às seis.
Mas enquanto as estrelas brilham no céu, eu penso no efêmero, um som alto que ecoa no vazio. Quando tudo ficou tão sombrio?
Um café, um som e um cigarro. Tudo amontoado.
Lembranças de um amor e vontade daquela voz, nem que seja por mais um único instante.
Acendo mais um em vão só para não perder a razão, e a cada tragada, eu me mato mais um pouco.
Bom, não sei bem se é o cigarro, talvez seja essa solidão.
Não importa, se o pulmão não parar primeiro que seja meu coração.
Com o cigarro no canto da boca eu já não tenho muito o que dizer, só pensar até amanhecer.
Resolvi acender aquele charuto guardado.
A queima lenta, a fumaça densa me faz pensar no êxtase que o tabaco traz, experienciar um momento de paz.
Perco-me em alguns pensamentos, acontecimentos que nem se quer importam mais, mas que permanecem vivos e reais.
O vento levou a fumaça, o tempo levou você e no final? Só me resta a lembrança do doce sabor do tabaco e o calor do teu abraço.
O que é poesia? Hoje me peguei a pensar.
Se você pode imaginar, está no caminho certo para ouvir o que tenho para contar.
Para mim, a poesia se assemelha a própria realidade: o que ela é se não um amontoado de coisas que fazem sentido? Ou será que não fazem?
Alguns tentam explicar de forma subjetiva, uma percepção das coisas, a realidade que se molda aos olhos do observador.
Talvez sejamos o todo experimentando a si.
A poesia é a experimentação do poeta como a vida é a experimentação do universo.
Um amontoado de letras que antes desordenadas, tomam forma em meio ao caos e dão vida a um momento.
Na mente do poeta, parece surgir, por acaso, tão natural quanto respirar o ar que enche os pulmões, mas, também, tão elaborada quanto a geometria de um cristal lapidado pelo tempo.
Poesia, assim como a realidade, é onde se conta uma história, onde se vive um delírio que beira a loucura, nos faz questionar a sua própria natureza.
Afinal, o que é poesia?
Talvez uma vida seja
pouco para nós, quando
fecho os olhos ainda
ouço sua voz.
As melhores lembranças
vem acompanhadas
por uma doce
dose de nostalgia.
Malditos sejam os saudosistas que caminham por memórias em pedaços, que cativam momentos mortos.
Trazendo de volta com eles, o aroma de dias mais felizes.
Em teus olhos azuis velejei como no mar, sem me preocupar.
Deixei me dominar pela calmaria do seu olhar.
Afundei no azul profundo, lá eu não sabia nadar.