Pedro Juan Gutiérrez in Rei da Havana

Encontrados 4 pensamentos de Pedro Juan Gutiérrez in Rei da Havana

Ah, a fome cozinhou sua cabeça. Não enxerga, nem entende mais nada.
Olhe aqui, escute. - Passou-lhe um braço pelos ombros e apertou, camarada. - Beba um trago. Não tem que comer nada. O que tem que fazer é beber, e esquecer as tristezas. As tristezas de amor, de saúde e de dinheiro. A gente vem no mundo pra sofrer. Neste vale de lágrimas

Inserida por lucas_nunes

O tempo dos pobres era diferente. Não têm dinheiro, e por isso não têm carro, não podem passear e viajar, não têm bons aparelhos de som, nem piscina, não podem ir aos sábados ao hipódromo, nem entrar nos cassinos. O pobre num país pobre só pode esperar o tempo passar e chegar a sua hora. E nesse intervalo, desde que nasce até morrer, o melhor é tratar de não arrumar encrenca. Mas às vezes a gente, sim, arruma encrenca. Ela cai do céu. Assim, grátis. Sem a gente procurar.

Inserida por lucas_nunes

Depois do jantar, Rey saiu andando pela praia. Estava cansado. Ouvia o suave rumor das ondas sobre a areia. Não havia brisa e fazia muito calor. Tirou os tênis e pisou na areia úmida, na água cálida. Tirou o short. Deixou tudo jogado na areia e entrou no mar totalmente nu. A água morna e negra o rodeava. Teve uma sensação estranha e voluptuosa. Fechou os olhos e sentiu-se abraçado pela morte. Não havia brisa nenhuma. A água quente, a escuridão infinita que o rodeava. O terror de se afogar, porque não sabia nadar. Manteve os olhos fechados e se abandonou, flutuando de bruços, com o rosto dentro da água. Sentiu-se atraído por aquela sensação deliciosa de ir embora para sempre.

Logo se afastou, já era de noite. Tomou sua cerveja gole a gole. Já não tinha gosto de vinagre. É assim. O ser humano se acostuma com tudo. Se todos os dias nos derem uma colherada de merda, primeiro a gente reage, depois a gente mesmo pede ansiosamente a colherada de merda e faz de tudo para comer duas colheradas e não só uma.