Pe.Jaldemir Vitório
O POUCO QUE É MUITO (Mc 12,38-44)
As aparências não influenciavam o juízo que Jesus fazia das pessoas, porque seu olhar penetrava no íntimo delas. Por esse motivo, não lhe era difícil perceber a motivação profunda de suas ações.
Os mestres da Lei, por exemplo, não o enganavam. Prevalecendo-se da estima que gozavam do povo, tornavam-se vaidosos e inescrupulosos. Sentiam prazer em ser reconhecidos como pessoas altamente consideradas. Sendo assim, abusavam da boa fé e da hospitalidade das pobres viúvas, passando longas horas de oração na casa delas, só para comer do bom e do melhor. Portanto, tornavam-se operadores de injustiça e dignos da mais severa condenação.
A generosidade dos ricos também não enganava Jesus. Com prazer jogavam consideráveis esmolas no tesouro do templo, para serem vistos e louvados pelos presentes. Tal esmola, porém, embora valiosa em termos monetários, não tinha valor para Deus.
Bem outra era a situação da pobre viúva que, tendo oferecido apenas algumas moedinhas, fez um gesto altamente agradável a Deus, porque marcado pela simplicidade e pela discrição. Talvez, só Jesus a tenha observado. A viúva não ofereceu do seu supérfluo. Antes, abriu mão do que lhe era necessário, para fazer um gesto agradável a Deus. Por isso, seu pouco tornou-se muito aos olhos de Jesus.
Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica
Lucas 10,25-37 - Parábola do bom samaritano
FAZE TU O MESMO!
Existe uma ligação evidente entre a questão dirigida pelo mestre da Lei a Jesus e a ordem conclusiva do relato. O mestre da Lei queria conhecer os caminhos para se obter a vida eterna, e Jesus ordena-lhe que imite o gesto misericordioso do samaritano.
A preocupação com a vida eterna corresponde a reconhecer os caminhos que conduzem ao Pai, fonte da verdadeira vida. O mestre da Lei estava no bom caminho ao confessar que a via que conduz ao Pai é o caminho do amor. Consciência fenomenal, se levamos em conta a mentalidade legalista, muito difundida na época.
Faltava-lhe apenas refazer sua concepção de próximo. A parábola contada por Jesus não deixa margem para dúvidas: próximo é qualquer pessoa que, encontrada pelos caminhos da vida, carece do nosso amor misericordioso. Diante deste apelo, caem todas as barreiras sociais, culturais, religiosas, étnicas. O próximo carente é a mediação da comunhão com o Pai. Quem tem sensibilidade e é capaz de desfazer-se de seus planos para se mostrar solidário, estará no caminho da vida eterna. Quem, pelo contrário, desvia-se do próximo carente de solidariedade, desvia-se do caminho que conduz ao Pai.
Assim, a vida eterna define-se pela disposição de se tornar servidor do próximo, em quem o Pai é servido. Quem é misericordioso, está no bom caminho.