Paulo Tsuchiya
Só
Demorei mas cheguei onde eu queria. Longe da futilidade e casualidade, sem paciência para ter um contrato social e distante de pessoas tão efêmeras, cegas com sua própria imagem e faz de teu ego companhia. Hoje escolhi ficar sozinho ao invés de investir em algo que não seja reciproco. Tão pouco ficar competindo em quem ganha o jogo de desinteresse, onde o ganhador é aquele que chora escondido no banho, se confessar com o travesseiro, passar noites imaginando uma vida onde só ocorre na "seção da tarde", fui romântico um dia, mas não tenho o interesse de voltar. Viver em meu santuário, viver em meu templo. Sentir a chuva de minhas dúvidas e encharcar minhas marionetes de incerteza.
Perdi meu eu
Força ao caminhar, de mim carrego apenas o que restou. Restos de momentos que não vão voltar, restos de um sentimento levado pelo vento, levado para o além do horizonte. Eis aqui estou. A solidão é a única que me faz companhia, entre namoros fracassados e família distorcida, tu és a única que ficou. Não sei dizer o que sou ou o que quero, só sei senti-lá, como se dependesse de sua presença fria como essa noite. Teu abraço mórbido me protege daqueles que um dia me iludiram, e daqui do alto não escuto mais os carros ou as pessoas, pessoas que só deixaram a dor, e disso só me deu forças pra construir esse redoma. Minha fortaleza ilusória que se tornou prisão, e agora estou preso, exilado sem saber de mim. Diziam que as noites foram feitas para refletir, mas o que vou refletir se nada eu tenho a dizer? Não sou mais o mesmo e nunca serei de volta. Só me resta sentir saudade do que nunca tive e esperar que os dias não sejam tão fatídicos, e as noites não me machuque tanto. Se vocês virem meu eu por ai diga que o espero. Nesse plano ou no outro, mas antes vou terminar o cigarro.