Paulo Scheunemann
A mudança é a máxima da vida, tal é sua força, que mesmo a inflexibilidade do passado altera-se diante uma nova percepção do presente.
Até mesmo o passado é mutável; modifica-se quando nele pensamos a partir de um novo ponto de vista, extraindo novas lições para o futuro.
Pensar é mudar, criar, ampliar o nosso universo interno de ideias; enquanto repetir, organizar, explicar, seriam meros acessórios do pensamento.
Preciso assimilar a proporção entre o silêncio e a confiança; quanto menos falo, menos carência tenho de confiar...Falar menos do que não preciso dizer; a confiança plena esta na solidão, é mudez de espírito.
Sei, pois o silêncio diz;
Diz a solidão.
Fala da escura e densa falta
Que soa do meio da fronte,
Em tom grave e díssono;
Que se ouve só ouvindo
De olhos quase fechados.
Como posso me surpreender com aquilo que em mim plantei e negligenciei o constante crescimento? Certamente tudo que se semeia cresce e dá frutos ao seu tempo, e a chuva cai sem acepção moral, vigorando tanto o bem quanto o mal que se produz na alma.
Espalhamos nossas verdades pelo espaço, forçando um coro semelhante a quem nos rodeia, talvez para dar concretude e maior certeza ao que sabemos não ter certeza? Sim, creio que sim, sinto que sim, eu mesmo o faço e me deixo acreditar.
Tudo que temos não nos pertence, pegamos sem permissão ao longo da vida, formando, de camada a camada uma crosta caiada pra embaçar esse instrumento dissecante que chamamos de olhos. Os olhos são a torre ruída da nossa fortaleza, através deles vislumbramos a escuridão que somos, por isso é dolorido se entreolhar por muito tempo, o ser revela-se nu pelo oco entre as pálpebras; e nudez arrepia aqueles que se vestem, e nos vestimos... tão espessamente.
Se a loucura é encerrar-se em si mesmo, então, somente aqui e nunca mais seria minha verdade de fato única e incontestável. O mundo é maior em mim do que fora de mim, Tudo que existe, existe porque o todo se percebe em nós, mesmo o desconhecido, fonte de toda religião, provém da nossa carência por entendimento, e então se mistifica.
Imaginar-se não-nascido, está além da nossa intelecção, o que vemos é escuridão caindo grossa, e isso ainda é existir!
Porque então contestar a verdade que já possuo de tão frágil, guardada sob vários selos blindados do pensamento? Para antecipar essa desilusão maior, não da morte, mas da vida; na morte há respostas, enquanto na vida perguntas, e, o medo pungente, o medo da resposta da morte.
Nada é mais limitado que viver somente, viver é ser limitado, num corpo que se formou por si só, numa história que já parece escrita quando se escreve, ou nos limitamos, desenhando nosso contorno no vazio, ou enlouquecemos.
É a morte que nos vivifica, dá-nos desprendimento, é dádiva divina, não digo a morte como demarcação fronteiriça, está que tanto se teme, velha e enrugada aproximando-se vagarosa. Digo a morte como a vida em si, sombra da vida, ambas da mesma substância que dá-nos latitude e profundeza. A morte como consciência daquilo que realmente sou.
O que mais engrandece uma pessoa é o amor, essa palavra para qual não há significado, verdade ou mentira, é coisa pura, acima de nós, e que por nós só faz passagem, não se retêm em nós, cai-se em chuva torrencial sobre nossas cabeças, e transbordamos, restando somente a quantidade que cada coração se permite entender. Usássemos todas as palavras disponíveis não poderíamos dimensioná-lo, é a razão pela qual o mundo existe e não desaba em si mesmo.