Paulo Franchetti

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À beira da estrada
Com o pêlo tão sedoso
O cachorro morto.

Acordo molhado de suor -
O sonho do banho
No tanque do quintal!

Azul e verde e cinza -
Olhando bem, o céu
É de todas as cores!

Cidade natal:
Até as flores do espinheiro,
No mesmo lugar.

Parou de chover:
No ar lavado, as árvores
Parecem mais verdes.

Dentro da mata -
Até a queda da folha
Parece viva.

Chove de novo -
As vacas e os carros
Devagar, em fila indiana.

Apenas vós,
Árvores de tronco branco,
Me garantis que retornei.

O calor sufoca.
De pouco em pouco,
Fogo e fumaça.

A chuva parou -
Na voz do pássaro,
Que frio!

Sempre do mesmo lado,
O dia todo e a noite inteira,
O vento da montanha.

Ao sol da manhã,
Imóvel como se dormisse,
A coruja no fio.

Mesmo o velho eucalipto
Parece feliz -
Névoa da manhã.

Ao pôr do sol
O brilho humilde
Das folhas de capim.

Quintal do sítio -
A única forma geométrica
É a linha de um varal.

Limpo o rosto na camisa -
O vento começa a trazer
As primeiras gotas de chuva

Casebres todos pintados
Na fazenda Cambuí -
Como é bom estar aqui!

Em Cuiabá
Suando e matando mosquitos,
Que cruel zazen!

O chofer de táxi -
Meu pai também, nos dias quentes,
Assobiava assim.

Entre as antenas
E as casas todas iguais -
Quaresmeiras!

Quando a chuva para,
por uma fresta nas nuvens
surge a lua cheia.

No terreno baldio
Ainda cheias de orvalho,
Campânulas!

Árvores da infância -
E depois a monotonia verde
Dos canaviais...

Até os pernilongos
Vão ficando silenciosos -
Como os anos passam...

Demorou este ano,
Mas de repente, em toda a parte -
Primavera!