Paulo DAuria
Paixão
Nada,
Certeza eu tinha,
Mataria a paixão
Em caixa lacrada
Encalacrada
Em meu coração
Na mão.
Mas cada
Instante tem fome
De traça
Corroendo as faixas
Vermelhas de seda.
Turbilhão,
Pandora ao reverso,
Arrastando razão.
Agora, eu não sei nada,
Amanhã, não serei.
Queria ter uma sala mágica
Que adentraria por porta secreta
Para rever os meus amigos todos,
Os que moram no Minho ou em São Paulo,
Em Aracaju, Teresina, Barcelona,
E os que estão no céu.
Sala atemporal e imaterial,
Nela só existiriam a luz e alma,
Dos braços, os abraços,
Dos lábios, os sorrisos.
E prometo às companhias de aviação
Que não faria uso de tal poder
Para desestabilizar a economia mundial
Com clandestinas viagens de férias,
Não,
Só preciso
De um Olá, como vai?
Do cuidado diário,
Dos olhos nos olhos.
Nada,
Nada mais.
No sono não consigo ferrar
Sem teu umbigo
Pra me enrodilhar,
Sem tuas omoplatas
Camas de armar,
Sem tuas coxas
Colchas de algobom.
Vazio o teu lado da cama,
Vazio o teu ar pra respirar.
II
Desatando-nos nós.
Nós de marinheiro,
Nós de carpinteiro,
Nós de pescador.
Descobrindo-nos mais soltos
Mais leves,
Mais livres.
Nós de Adão e Eva.