Paulo Brachtvogel
A Chuva
Amo-te, desde criança, no silêncio, a intensidade e o sussurro, traz beleza e renovação das alturas... Fecho os olhos, espero que caias sobre mim... Mas preferes cantarolar sobre as folhas, sobre os telhados e no vento fresco...
Dos lábios...
Dos lábios dela ainda sinto o toque,
Dos lábios dela ainda sinto a suavidade,
Dos lábios dela ainda sinto o calor,
Dos lábios dela ainda sinto o beijo apaixonado...
Dos lábios dela ouvi sussurros,
Dos lábios dela saíram juras de amor,
Dos lábios dela jamais esquecerei,
Jamais esquecerei aquele sorriso que me fascina,
Ah, os Hibiscos, esses, apesar de toda beleza,
Ofuscados ficavam com o brilho daquele sorriso...
Dos lábios dela só tenho boas lembranças
E uma vontade louca de senti-los novamente...
E no fim do dia, só quero ouvir o canto dos pássaros, ter uma rede para deitar, admirar a beleza do sol se pondo e agradecer...
O coração palpita pela lembrança constante daquele rosto, daquele sorriso gostoso, da pureza, da delicadeza, da beleza dessa flor, seu perfume embriaga de desejo e amor...
Meus olhos marejados, claros ofuscados...
Ela com sorriso tentador, no semblante leva esperança, de quem muito ainda tem para construir...
Amor, paz, prosperidade, amizade são transmitidos de forma serena...
Ah, teu olhar doce, castanho, lábios perfeitos... de toque suave, transpira intensidade... cabelos macios, cheiro de desejo e pecado... Como não querer? Como esquecer?
Ele bebe mais um gole do seu vinho e olha novamente para o alto, admira as estrelas e a lua deslumbrante e volta a sonhar...
Quanto vale a vida?
Para a Vale, nada vale...
Quanto vale a natureza preservada?
Para a Vale, nada vale...
O Brasil agoniza mais uma vez em meio ao lamaçal, de mais um CRIME ambiental...
Mas para a Vale, nada vale...
Prometeram “flexibilizar as leis ambientais”, pois o “empresário não suporta mais”...
O que vale a vida?
Para alguns e para a Vale, nada vale...
Conhecemos o verdadeiro amor a partir do momento que temos filhos, esse amor puro e incondicional...
Banho de chuva
No solstício de verão,
Com sensação térmica é altíssima...
Não, neste momento não são as emoções que o aquecem,
que o fazem transpirar...
Ele levanta os olhos aos céus, como se fizesse um pedido,
Os Cúmulos-nimbos começam a aparecer
Como se fossem bigornas gigantes,
turvo se torna o dia,
Os gregos diriam que era Zeus dando uma amostra da sua fúria e poder,
Grandes quantidades de gotas cobrem sua face,
Sente o arrepio da água escorrendo pela suas costas tórridas
a sensação é de purificação,
de alegria, os cabelos lhe caem sobre os olhos,
gotas se acumulam nas extremidades dos cílios,
Naquele momento onde só se ouve o vento e os pingos fortes,
assim como ele, os pássaros cantam, pulam e dançam...
como se fizessem um ritual de agradecimento...
pés molhados na grama encharcada,
pura energia e vitalidade brotando...
Aos poucos a chuva perde a intensidade,
aos poucos o vento que antes soprava forte se despede,
Seu coração estava plenamente aquecido,
Pôs fim a balbúrdia, que havia nele...
Os olhos se fecham, ele em silêncio agradece...
As luzes se apagaram...
Motivos pra chorar? Talvez tenhamos...
Já passamos por tantas coisas,
Algumas parecidas...
O Universo é testemunha que eu tentei
Então por favor não me cobre mais...
Meus olhos vermelhos marejados já não suportam,
Este é nosso último "adeus"...
Talvez nos encontraremos de novo no futuro,
Quando estivermos mais maduros...
Eu tento ler sua mente, sem nenhuma intenção de ser cruel,
Não encontro explicações, mas você está no seu papel...
Eu queria poder explicar, mas isso levaria tempo e muita paciência,
Quem sabe ali na frente o destino nos aproxime novamente,
Mas hoje só posso dizer adeus...
Adeus amor, adeus, ficarás sempre presente nos sonhos meus!
Reflexos
Cantando, segue mata adentro,
Pássaros de diversas espécies batem suas asas,
Ouvindo seu alarido,
Nada causa tamanha satisfação,
flores, folhas secas, o verde, uma imensidão de vegetação...
Ouve o som da cascata,
Retumbante é o encontro das águas com as pedras,
Ele fecha os olhos, aprecia,
respira fundo, ah, o cheiro do mato,
aquela doçura de aromas,
passa a mão sobre as dormideiras,
As sensações para ambos é a mesma, como um arrepio sentissem...
Mais uma revoada de pássaros,
tão felizes, soltos em seus planos,
passo a passo se aproxima,
Com seus puídos trajes não se acanha,
as margens do rio o chamam,
ele percebe sua face refletida no leito,
já punida pelo tempo,
de si já despido o respeito
relembra dos seus amores,
de sua vida hedonista e livre
Lentamente levanta sua face,
Olha ao alto, sorrindo fecha os olhos e reverência
dando graças pela vida e por tudo aquilo...
Um dia quisera eu sonhar,
Quisera eu sonhar que existe inclusão,
Que não existe perseguição,
Quisera eu sonhar que o racismo não mais existe,
E que a liberdade e igualdade prevalecerá...
Quisera eu sonhar que não mais matarão Evaldos,
Inocentes “confundidos” com traficantes,
Ah Evaldo, se tu fosses branco...
Hoje estarias cantando, animado com sua família,
Mais um samba feliz.
Quisera eu sonhar que militares se certificassem,
Não mais traçassem perfis,
E por “engano” 80 disparos
Não mais tirassem vidas inocentes,
Não mais tirassem um pai, um marido,
Um artista, do palco da vida...
Quisera eu sonhar, acordar, não mais viver de ilusão, de esperança,
Mas sim, ver na prática um país melhor,
Sem discriminação,
Sem perseguição,
Com igualdade, paz e amor!
Outono
A névoa paira sobre os morros
O verde se funde ao cinza, nuanças
gradativas, nada linear...
As mãos e a boca quente
contrastam com o rosto que padece com a brisa gélida...
O coração se aquece com as lembranças dos beijos cálidos dela...
Na mão, meia taça do seu merlot favorito,
Nos pensamentos, o predomínio daqueles olhos castanhos, doces...
Pela janela observa os plátanos com suas folhas já amareladas, outras secas avermelhas se desprendem e caem lentamente, dançam num zigue-zague suave até o chão molhado...
O ritual é uma despedida, o último espetáculo, o agradecimento pela companhia...
Entre um gole e outro de vinho, o consolo, após o inverno rigoroso virá a primavera, e tudo voltará a florir...
Olhos Cerrados
Um dia quisera eu sonhar
Com a brisa do teu sorriso,
Com o leve pulsar da alma
Inebriando meu juízo...
Quisera eu sonhar
Com a fonte dos teus desejos...
Um dia quisera eu sonhar
Que teus olhos nos meus fariam música...
Que nossos corpos não resistiriam
E, em brasas,
Se entregariam...
Quisera eu sonhar...
Mas ao acordar,
Percebi que tu não estavas ali...
Seus olhos,
Olhavam para olhos distantes,
Não obstante,
Se entregavam
A olhos cerrados,
Destemida,
Falavas em paixão reprimida...
Eu apenas senti...
O segredo é ser verdadeiro consigo mesmo...
(Nunca te desculpes por demonstrar teus sentimentos. Seja verdadeiro sempre)!
No alto da árvore, famílias de araras faziam alvoroço,
macacos saltitavam felizes,
lebres corriam por entre os arbustos,
O sapo Cururu coaxava na beira do rio...
O boto-cor-de-rosa ouvia sobre suas lendas sem dar um pio...
de longe quem espiava era o jacaré-açu...
Na margem do rio a Sucuri se debatia entediada...
a Preguiça levanta os olhos para uma leve espiada...
A capivara se banhava maravilhada...
A onça saia para sua caçada...
Pausa para um breve silêncio, ele está no altar, o Uirapuru a cantar...o canto da despedida
De onde vem o fogo que devasta a alma?
Desta vez não era um jogo, era sério
Não há resposta dentro da pequeneza
A noite cobriu o sol
Que outrora admirava de longe tanta beleza
Agora coberto de luto
Por um vale de ossos secos
Pela floresta que não produzirá mais nenhum fruto...
Sob o céu estrelado
distenso no gramado...
Entre galhos, folhas e frutos da amoreira...
Admira as estrelas...
Ouve os sons que a noite produz...
Grilos e sapos cantam e coaxam em harmonia...
No horizonte as sombras das árvores
Formam enormes montanhas...
O leve sopro do vento
Junto a minúsculas gotas de orvalho
dá o toque especial...
No alto a Lua sorri...
Um enorme calidoscópio...
O perfeito
O tempo
O infinito
Os instantes
A essência
Com suas disposições simétricas...
A constante mutação poética...
Teus lábios doces e quentes
Mãos suaves como a pele da uva...
Vou gritar para que o vento leve
ecoe meu amor aos quatro cantos...
Me prendes em tua teia de versões, caleidoscópio!
Somos uma nação de sonhos, versões e filosofias
Nossa canção é doce, mas protesta...
Nosso externo de profundas sombras,
Ameaças a nossa liberdade...
Não, não queremos beber desse cálice!
Iremos além das brumas...
É o verso e a prosa contra o metal,
Contra a fúria triste...
Nosso grito ecoará livre
Na liberdade dos pássaros
Na dança das borboletas...
Ainda somos livres para amar...
Quero ser pra ti como o setembro para a primavera...
O sabiá que canta eufórico na presença das flores...
Sobre meu coração
chovem gotas frias de desalento...
turvas são as águas,
Nelas me sinto como um náufrago
Tento retorquir,
flamejando em meio à multidão atingida pela maldição do facciosismo...
Diante desse tempo úmido e frio
Domados atrozmente por avalanches de distorções e invenções
Carregados de vazio,
Sem ideias,
embriagados pelo inculto...
Suas mudanças revelaram-se navalhas
que não cicatrizam
Feridos, desempregados,desabrigados e famintos
Sob marquises pleiteiam acomodação.
Onde está a rosa?
Te tornaste símbolo, carregada em punhos cerrados
Sempre fostes resistente
Precisamos que cresças entre escombrosde pedras brutas
Que floresças nos corações e mentes,
que transforme a melancolia em esperança.