Patrizia Bergamaschi
ANDAR JÁ ENTRANDO
atrás de atalhos
ando à deriva
apalpo sonhos
acordo estradas
aturo sorrisos
arranjo flores
afago melodias
arranho nuvens
e me adianto no caminho
e aguardo à frente
e me apego à vida
e adormeço em éter
e me aceito em lágrimas
e amanso gozos
e me afogo com passos
e amo a poesia que festeja em cada letra.
Para quem resiste diante das incertezas, justiça e felicidade não são palavras de sonho de um dia distante, são palavras de atitudes para os tempos do agora.
Por que não abrirmos a nossa boca – como uma porta –, os nossos olhos – como janelas – para darmos as boas-vindas à vida que se renova fiel no dançar dos dias?
Para quem tem olhos no mundo, uma poça d’água espelha o universo
e esconde a fonte de água fresca que brota de seu próprio coração.
Para quem tem fé na vida, toda mão estendida ao outro é prece, todo diálogo de construção e busca é benção repartida.
Para quem tem asas na alma, todo caminho até um sonho é o esperançar dos dias de todos os que se achegam e não têm medo de enlamear-se os passos.
Para quem inventa cores para a rotina, a coragem não conhece velocidade máxima porque precisa levar todo mundo na garupa. E as viagens serão sempre muitas.
Para quem tem riso de criança armazenado no peito, em qualquer pedacinho do mundo é possível fazer um mutirão para edificar a ternura.
Para quem tem um livro e um desejo, todas as páginas escritas na história de sua vida terão sentido e beleza, todas as histórias serão iluminadas de vida.
Para quem se alegra e se alumbra à luz do outro, um toco de vela aceso no fundo do sertão é capaz de alumiar o mundo inteiro em silente mistério.
Para quem tem vontade de navegante, não há barcos pequenos, canoas furadas, noites de borrasca ou visão embaçada. Sua bússola se aninha no leme firme de sua própria essência.