Patricia Lara
"Solidão"
Faço versos durante o dia
e os apago durante a noite
para voltar a escrevê-los
no dia seguinte...
Faço isso
não com a intenção de matar
a minha solidão,
mas para alimentá-la.
GRAMATIC(A)MANDO
“Uma tentativa vã
de te conjugar aos meus sentidos...”
Se te conjugo no presente
é um indicativo de que te quero.
E se te imagino no futuro
(do presente? do pretérito?)
que importa?!?
Meu passado é acabado
e tu o meu mais-que-perfeito acaso.
Se te conjugo no presente,
vazio está o meu passado
e incerto se faz o meu futuro.
Se te conjugo no infinitivo,
infinito é o meu desejo de
tocar-te,
ter-te,
sentir-te.
Se no gerúndio te busco
sorrindo te encontro,
querendo os meus beijos,
cantando os meus sonhos
e sonhando-os comigo.
No imperativo: ama-me!
No particípio imagino-te entregue,
submerso em meus anseios.
Sabes que és o meu subjuntivo,
a causa de minhas impossibilidades.
Estás na irregularidade do tempo
a transitar os meus sentimentos
mais intransitivos.
És o meu objeto direto
que, indiretamente, busco
na solidão dos meus dias.
Defectivo, deixa em meu corpo
espaços vazios,
lacunas de saudades constantes.
Se insisto em te conjugar
(na 1ª pessoa do plural)
logo percebo,
quão ruim sou em gramática!
Mas, se te conjugar é, para mim,
uma tentativa frustrada,
contento-me em viver
(em sua total plenitude)
o amor que sinto por ti.
“Sangrando”
Eu sei...
o meu amor por ti
foi insensato!
Foi labiríntico,
mórbido e,
por vezes, imaturo.
Intenso, quis tudo de ti
a todo custo,
a toda prova.
Indeciso, armou-se de espinhos
e se escondeu nas sombras...
(bem longe dos teus beijos).
Perdido, deu voltas em si mesmo,
buscando uma saída,
mas sentiu-se tão inseguro
que preferiu a partida.
(Não, eu não te contei,
mas me doeu muito te perder).
Doeu
como dói a ferida aberta,
um soco no nariz,
um corte profundo no pulso,
um objeto pontiagudo nos olhos.
Doeu
como dói a morte de um sonho
nascido prematuramente.
"A --------- mor(te)"
Saibas,
que também coleciono tristezas.
Coleciono frustrações,
dores e, até mesmo, raiva.
Saibas,
que o tom avermelhado do meu olhar
foi feito com tinta lágrima...
(colecionando a mais pura saudade!).
Como cortesia,
também coleciono dois riscos
que dividem os meus pulsos
a
o
m
e
i
o
(esses foram feitos
delicadamente
pensando em ti).
São agora
tatuagens macabras
do meu querer.
Saiba:
eu não deixei de te amar...
(mas por um minuto
quis matar o meu amor).
E foi na morte que descobri
o quanto ainda vives em mim.
Plantaste
u m a. s e m e n t e.
V
E
R
D
E
em meu
olhar.
VERDES
os sonhos colhidos
de teu olhar.
VERDE
a esperança latente,
o desejo crescente
a te esperar.
VERDES
os olhos famintos
no reflexo a mirar...
- os meus nos teus
ou os teus nos meus?
(tão misturados estamos
que não há mais como separar
o verde do nosso olhar).