Paola Duarte
Noite de inverno e eu aqui sem você. O tempo passou, mas para mim o relógio não anda, o tempo não muda, os ventos não levaram as coisas ruins e nem me trouxeram nada de bom. À minha volta tudo evolui, e eu continuo aqui parada, ainda um pouco extasiada, ou talvez assustada com tudo que aconteceu tão rápido. Meus pés não se movem como eu gostaria, vivem teimando comigo querendo voltar, andam para trás incessantemente. Mas eu faço força, mantenho-os à frente, mesmo que sendo tentativas fracassadas continuo tentando fazê-los andar na direção certa. Acabo entorpecida sabe, não sinto, não vejo, não ouço, não sei, estou mesmo perdida numa correnteza que não me deixa alternativas de caminhos, escolhas de futuros, mas de qualquer forma… Não vou desistir.
E a bailarina que não queria mais saber de dançar, trocou tudo que tinha para tentar amar alguém cheio de defeitos, cheio de vírgulas, poréns, alguém que nunca terminava o que começava, alguém que não gostava de pontos finais. - Confesso que particularmente também não gosto, mas quando isso permite que uma história se emende na outra, se misture na outra, é hora de começar a achá-los mais atrativos. A menina que não usava mais suas sapatilhas, dizia sempre a si mesma: “Todos merecem ser amados, independente de quantos defeitos possuam, e principalmente se não souberem amar”. De fato, ela tinha razão, mas ninguém quer entregar o coração à alguém que não saberá o que fazer, alguém que terá medo e não saberá amar-te de igual para igual… Então concluo que não seria justo. Ah menina, o mundo nunca será justo. Quem parte quer ficar, quem fica quer partir, quem já partiu não quer voltar e quem volta não quer sair. Ela se levantava, direcionava o olhar para as sapatilhas esquecidas num canto do quarto, abaixava a cabeça, e em um instante se recompunha… Antes mesmo de cair já estava novamente de pé. Abriu a janela, estava de fato um dia belíssimo, colocou sua melhor roupa, tratou de fazer-te inteira para se dar a alguém que não podia ser nem mesmo complemento. E foi, com a cara e a coragem, foi. Ela não sabia que era especial, mas sabia que podia conseguir o que queria, e que teria de passar por muitas complicações para atingir seu mais alto objetivo. Não sairia ilesa da situação, e não se preocupava com isto. Só queria mesmo poder dizer: “Eu o fiz assim”.