Paccelli José Maracci Zahler
REENCONTRO
Voltar a cantar,
Pássaro livre.
Voar, voar
No céu azul
Sob o sol brilhante.
Pousar contente
No galho da árvore.
Sentir o verde,
O cheiro do mato,
Longe do asfalto
E dos arranha-céus,
Num reencontro maravilhoso
E abençoado
Comigo mesmo.
VIAGEM
A vida passando,
Passando, passando
Com a rapidez do raio.
O rosto enrugando,
O cabelo caindo,
O corpo encurvando,
Amigos partindo.
Caminho sem volta,
Passagem de ida,
Não se sabe pra onde.
VENTAVA
Ventava...
E naquela estrada
Cabelos esvoaçavam,
Folhas secas rolavam,
Arranhando o chão.
Arbustos vergavam
E a poeira subia,
O vento assoviava,
Saci-Pererê?
Ventava...
Um coração
Batia lentamente,
A cada passo, uma dor.
O vento arrepiava a alma,
Mexia com o corpo,
Como se tocasse um sino.
O toque era triste
Como no réquiem
E ecoava campo a fora
Dizendo:
- Estou com saudades!
HARMONIA
A paz
Invade meu corpo
E me transporta pra longe.
Conforta e anima,
Me joga pra cima,
Me preenche e transforma.
Não sou mais gente,
Apenas semente
Germinando inocente
No compasso das horas.
ÁGUA VIVA
Água, jóia preciosa,
Tom azul do planeta,
Bebida majestosa!
Água que nos envolve,
Nos dá vida, nos mata,
Força poderosa!
Deusa-mãe desprezada
A cada dia conspurcada
Como se fosse eterna.
Força motriz
Da vida na Terra,
Porém, até quando?
Em nome do lucro imediato,
Os rios, os mares e os lagos
Estão cada dia mais imundos
E, pela falta de cuidado,
Acabarão pagando caro
SONETO À TROVA
Muitas lições de Vida em quatro versos,
Sabedoria singular resumida
Que o trovador insone lapida
Dia após dia, concentrado, imerso.
A dificuldade não o intimida
Pois necessita superar o adverso,
Em poucas rimas tirar do Universo
Pérolas lindas ou ricas jazidas.
O poeta é garimpeiro solitário
De ritmos, sons, balanços e palavras
Encadeadas como contas do rosário.
Inflando o coração de sentimento,
O trovador exibe sua lavra
De abençoadas gotas de alento!