Pablo Henrique Saldanha
(Cantata das histórias da Aquarela)
Brasil das Aquarelas, diversas.
A emoção passada por Elis no henfil da vida dos bêbados, que dançam na corda bamba.
Os arrepios trazido por Bethânia rodeada por tupis e erês, no seios de Dona Canô.
O medo de abrir qualquer dia os olhos na música de Lins.
Na terra de todos os santos, a noite de magia de uma sexta-feira de candomblé,
E aos sons das atabaques desce um rebanho de seres de luz.
Já vemos a aquarela de milhares de cores...
No arenoso solo vermelho da seca, tem quem dance de sombrinha numa terra que não chove.
Tem também por perto dança de boi, terra que tem como conterrânea a Marrom.
Tem lugar que se chama marquês, onde passa batuques e pessoas arretadas com pé no samba.
Estado cinzento, onde pobre não tem vez.
Lugar frio que quase neva, mas gelo cai.
Tem bahiana mineira e gaucha do sudeste.
Tem isolamento de gente que fala estranho, e anda nu, que dança envolta da fogueira.
Também vencemos os canhões com flores de lótus. Orgulho e tristeza disso tudo, e vergonha dos corpos escondidos nos DOPS.
E mais uma vez destros golpeia canhotos. Quem vai gritar fora?
Há quem idolatram guerreiros e guerrilhas do mal, homenagem à quem golpeou as costas dos mestiços.
Choram crianças, e alimentam-se os devassos do dinheiro público.
Oh Brasil, meu Brasil!
Eu vivo o hoje.
O passado é museu,
e o futuro,
eu planto sementes boas para colher frutos bons amanhã.
Confissão de solitário
Me alimento da fome.
Meu amigo é o tempo.
Respiro as fumaças das noites.
Tusso o vazio das águas, sem nada, dos meus pulmões.
Enxergo, quando enxergo, é apenas para me localizar no pântano frio de almas negras.
Meu interior é vazio, vago para qualquer corajoso passar.
Não tenho coração, se tenho, é de pedra.
Sou como a alma solitária, que quer ajuda, porém assusta...
Quando saio, chove.
Quando sorrio, e se sorrio, é de tanto chorar.
Sou o resto das queimadas de lugares tenebrosos.