Pablo Frejat
O amor fracassa muitas vezes porque nos intimidamos com o gozo. É sempre carregado de uma expectativa; um filho, por exemplo, que sofre pressões de ter que provar todos os dias que ama seus pais ou vice e versa.
Quando se começa uma análise, o paciente sempre tem a crença de que conhece bem o que o traumatiza, ele vai contando o que o interessa. O ponto da clinica é descobrir o que pra ele é desinteressante, que está evitando contar, passando a navegar nesse rio, muitas vezes, nebuloso.
Há sempre um desconsolo silente, originado de um trauma, que nossas ações sinalizam pedindo socorro.
Dentro de todo ser humano há angústia decorrente de traumas, mas, em alguns de nós, ocorrem as distorções fora do que chamamos de variáveis aceitáveis dentro de um quadro geral. Elas são desencadeadas por motivos, muitas vezes, singulares e consequentemente causa em cada indivíduo uma patologia. Pode ocorrer de duas pessoas sofrerem o mesmo acontecimento e desenvolverem uma perturbação na sua realidade de forma diferente. Por isso a análise se faz necessária, os nossos demônios internos podem até gritar, apesar disso, devemos aprender a controlá-los.
Faz tempo que viajo para dentro de mim. Aeroportos estão sempre cheios e em atrasos com as chegadas e partidas. Rodoviárias que me lembram de cada saudade que deixei para trás. Portos que trazem possibilidades em mar de horizontes. Estações marcadas de despedidas em silêncio que ficaram em acenos. Tenho um passaporte recheado de vistos, lugares que encontrei em mim. Conheci paisagens, figuras e demônios adormecidos.E, ainda não sei, afinal, para onde estou indo, já que não posso mais voltar.
Terá dias em que você vai cair e machucar-se, confrontará suas piores angústias. O tempo vago entre o acordar e dormir será bastante conflituoso, cansativo, porém, irá brigar para permanecer firme, porque imagina que de outra maneira será fraco, mesmo sabendo que está se guiando abaixo da média esperada e provavelmente algumas pessoas já perceberam. Ocorrerão dias em que vai deitar a cabeça no travesseiro e imaginar como seria a outra versão de suas escolhas. Quando tudo isso falar bem alto dentro de você, quero apenas que feche os olhos e se perdoe, mesmo ainda não entendo o porquê. Nossos fantasmas não se alimentam da nossa culpa, mas da nossa fragilidade em não se perdoar.
Clichês não salvam vidas. Páginas decoradas de livros também não. Frases lindas que entregam uma sensação de conforto muito menos. Não sou padre em busca de confissões. Procuro nas feridas já tratadas, resquícios de sintomas que invadem a paz. Encontro nos olhares gritos de socorro, diante da falésia do silêncio que agride. Dos lábios saem o que raramente importa de fato, precisando mergulhar os pés no raso, para se poder jogar de vez o “corpo” na profundidade.