p.a.marangoni
O homem não é nada programado, somos filhos do acaso e sem função como qualquer pedra, que por evolução acabamos possuindo um emissor de energia que ainda não sabemos controlar e que poderá nos conduzir para a vida fora da massa vulnerável do corpo ou transformá-lo por expansão das partículas em um veículo mais apropriado e eficaz. Podemos ser Deus também...
Infinitos são os deuses, imperfeitos os seres etéreos, mas sem necessidade prática de interferir de forma física nos habitantes desta partícula bruta chamada Terra, extremamente inferiores que se digladiam perdidos em suas incompatíveis engrenagens, em busca de compreender sua hipotética função.
O homem caminha para a extinção física, acelerado pelo aprimoramento da medicina, que vai contra a seleção natural que permitia que só os mais fortes sobrevivessem e o resultado é a crescente debilidade dos novos habitantes da Terra.
Um ser humano com o intelecto superior poderá conseguir se comunicar ou se expandir com a força de sua mente científica melhor que um milhão de ignorantes rezando individualmente à Deus ou ao Diabo.
Tudo o que aqui acontece é obra do acaso, do comportamento do planeta ou por ação dos homens e animais. Nunca existiu a mão divina em nada de bom, nem a influência demoníaca em qualquer catástrofe.
O acaso criou o Universo, seu surgimento foi um incidente; a vida não é uma benesse, é um fardo pesado que carregaremos ao infinito em busca de um só objetivo, incompreendido pelos homens mas que é a meta dos deuses, dos seres mais avançados: o não ser, conseguir todo saber e poder com o fito de dissolver-se. Não é a expansão contínua do Universo um caminho inverso ao de sua formação, a aglutinação de partículas? Logo, o caminho, o destino, é retornar à dissolução completa, o Nada.
Aos homens medíocres, aos minerais, vegetais e animais, resta uma benesse transitória, dissolver-se, não pensar. Uma pedra é triste? Uma pedra tem decepções? Mas transitória é esta felicidade, pois o ciclo da matéria é continuo e somente quando a última partícula surgida no Universo tornada Deus conseguir se extinguir, retornar ao Nada, a angústia terminará.
Você pode ser o único indivíduo do Universo, um Deus louco dominado pelos seus pensamentos desordenados... Tudo que o cerca pode ser produto de seu cérebro borbulhante.
Você pode existir mas é indiferente existir ou não, sua presença torna-se irreal porque só por si percebida; auto devorando-se nada sobrará para perceber sua ausência, comprovando-se sua anterior inexistência...
Sentimento de loucura? Meros conceitos, se não há parâmetros, um ser único não pode ser louco ou normal, seria o normal ser louco.
Toda existência, trabalho, prazer, são inúteis porque são imediatamente engolfados pelo tempo que acompanha qualquer presença.
Existindo ou não, fugazes ou imortais, humanos ou deuses, diamante ou carvão, nada pode ser superior ao Nada, que não requer esforço, premente utilidade ou valor, busca, conhecimento, espaço, manutenção... O Nada é a perfeição, limpo, sem defeitos, estático, sem tempo. Até mesmo Deus, invenção humana que pretendia ser o modelo da perfeição, caso existisse, teria que ser, estar, de um modo ou de outro e portanto inferior ao Nada que simplesmente não é, não precisa ser, não precisa estar.
A massa gordurosa que agora se dissolve na terra sob o ataúde é superior ao conjunto químico pensante que ali foi colocado após a transformação chamada morte, tal qual a areia está um passo à frente do bloco de quartzo, rumo ao quase Nada.
O homem que tanto pretende defender a natureza, não a compreende, nela não se espelha. Nós somos animais, desenvolvemos instintos que não podem simplesmente serem tolhidos por uma regra escrita. O resultado é o desenvolvimento do Grande Teatro Social, onde todos mentem, onde todos fingem...
Somos um incidente num mundo uniforme. Acreditamos que nosso desgovernado cérebro é um complemento que nos distingue em superioridade, quando em verdade nos condena à constante angústia de nos situarmos no Universo em meio a outras formas já estabilizadas e tranquilas.
Criamos um Deus e a Eternidade para acreditarmos
no Sempre e rejeitarmos a nós próprios.
De costas ao espelho do real.
O silêncio é a única música e os pensamentos a letra
compostos e regidos instantaneamente na Sinfonia Vida.
Só assim se é realidade.
Sem melodias que embalem;
sem drogas que entorpeçam;
sem trabalhos que distraiam;
sem doutrinas que confortem.
Basta apenas uma coragem sempre maior àquela que a natureza nos concedeu.
Queremos o Sempre e perdemos o Agora.
Com plena “felicidade” não há necessidade de vínculos afetivos, o indivíduo se basta; com pleno conhecimento para manter indefinidamente os arquivos do Eu de forma artificial e aperfeiçoada, não há necessidade de um corpo perecível para armazená-lo e elimina-se a procriação, ato primitivo de seres de curta duração. Assim será o futuro, seres de material indestrutível, autossuficientes, rumando para a construção de uma única máquina que englobe todo o conhecimento, o que tornará obsoleta a função do “poder”. Os humanos são apenas formas de vidas intermediárias, necessárias ao processo mas destinadas à extinção.
Seres superiores?! Somos apenas uma massa de carne e ossos dirigida por um computador primario chamado cérebro, que navega imprudentemente pela Internet da vida sem que no decorrer do exíguo tempo de funcionamento seja feito uma limpeza de disco, um escaneamento com antivírus, atualizações, resultando em contaminação por dogmas e crendices, invasão por terceiros, domínio pelos hackers da Sociedade e desempenho progressivamente mais lento, até a falência final.