Ottavio DiLucca
Morre-se deixando a vida,
mas também morre-se vivendo.
A morte nos afasta daquilo que permanece
e deixamos de permanecer, mesmo aqui estando.
É quando somos separados de nós mesmos.
Morre-se permanecendo e permanecemos mortos,
mas com a consciência de quem não se foi.
Quem morre não sabe que já não é,
exceto alguns de nós...
Saudade é uma coisa que se sente em virtude daquilo que já não é, que já não está, que já não faz parte, que já não vive, que já não preenche, que já não alegra, que já não faz sorrir.
É como ainda sentir o ar se deslocando sobre os trilhos em que um grande trem tenha acabado de passar. É como olhar um vulto que desaparece na sombra. É como perseguir fantasmas...
Saudade não se mata.
Saudade mata.
A miserabilidade do homem não se relaciona à sua conta bancária ou ao seu patrimônio. É apenas a condição de quem não percebe que há coisas na vida – coisas superiores – cujo valor não é monetário, mas existencial.
A quem merece,
a minha melhor inspiração.
Aos não merecedores,
o que de mim for ilusão.
Aos que me entendem,
um bom papo, admiração.
Aos que não me compreendem,
um sorriso pálido e um aperto de mão.
Aos que me ouvem e me seguem,
um vendaval de delírios, um furacão!
A quem prefere me ignorar,
o rotineiro e previsível, os pés no chão.
O resultado de conhecermos a Deus é que a religião passa a estar a serviço da vida, e a vida deixa de ser escravizada pela religião.
Ler é olhar por cima do muro, é ver o que há por detrás das montanhas, é enxergar além do horizonte, é descobrir o que existe do outro lado do arco-íris.
Ler significa dialogar com pessoas cujas ideias nos inspiram a desenvolver pensamentos que jamais teríamos se permanecêssemos confinados unicamente em nosso próprio mundo.
Ler provoca constantes “big bangs” dentro de nós – explosões de conhecimentos e de ideias que nos tiram do microcosmo da nossa ignorância, centrado no conhecimento de coisa nenhuma, e nos transportam para novas dimensões de um saber sempre em expansão.
O amante, o amar e o amor
Uma alma cativante,
com beleza radiante
e sorriso bem constante:
Assim surge o ser amante!
A doçura singular,
a simpatia sem par
e aquele charme no olhar:
Que desejo de amar!
Um abraço com ardor,
a singeleza de uma flor
e a amizade sem pudor:
Que convite pro amor!
Se o natal for mesmo o nascer
Então deixe o amor surgir e crescer
Mas se o natal for o renascer
Traga de volta o amor que se quer esquecer
Torna-se nítido que a efemeridade e a limitação da nossa condição humana existem contraditoriamente paralelas à nossa ambição sem limites e à nossa capacidade de provocar a destruição de tudo que nos é fundamental à vida.
Em nome do poder, do domínio e do progresso, os homens passaram por cima do que há de mais elementar do ponto de vista de uma ética humana: o respeito, tanto ao próximo quanto à natureza.
Ao longo de nossa “evolução”, nós, a humanidade, cometemos as maiores torpezas: criamos mecanismos que permitiram submeter os nossos semelhantes; fomos capazes de subjugar, classificar e excluir; passamos a atribuir às pessoas um valor proporcional às suas posses; criamos as elites e os marginais sociais; escravizamos; arquitetamos a destruição em massa dos nossos pares; instituímos a manipulação da fé religiosa; dissuadimos nossos irmãos de perseguirem uma compreensão autônoma de suas existências; implantamos ditaduras; violentamos, censuramos e aniquilamos.
Confidências ao Luar
Estive esses dias com a lua
À beira do rio a encontrei
E a cada noite lhe perguntei
Sobre sentimentos e a paixão tua
Pedi-lhe inúmeros conselhos
Dirigi-lhe perguntas sobre amor
Sobre paixões proibidas, sobre a dor
Busquei respostas de joelhos
Fiz a ela confidências
Contei-lhe do meu amor por você
Perguntou-me, então, cada porquê
E viu que sofro penitências
Sua bênção tive que pedir
E que sorrisse pra nossa história
E que sempre iluminasse a nossa memória
Antes de a cada manhã partir
Sonhos de menina
Tu és o que teu coração deseja ser
Lady inglesa, borboleta, bailarina
Se íntimos desejos fizeste brotar e crescer
És tu sublime flor, bela princesa, heroína
Tuas fantasias, tudo que sonhaste acontecer
Chá das cinco, vôo livre, sapatilha pequenina
Se em teu interior, em teu âmago florescer
Tu verás acontecer: será rotina, e não sina
E assim cada crepúsculo, noite serena, amanhecer
Mostram ao mundo a tua essência, que é divina
Enquanto o dia alto desvela todo o teu poder
E teu sorriso mágico e sonhadora alma de menina
Crepúsculo da vida
Quatro décadas e muitos atos.
Então sai de cena o astro-rei.
A melancolia sobe ao palco.
Tudo que não fui já não serei...
Manto negro, escuridão da vida.
Ó que decadência da esperança!
Perdida alvorada dos meus dias.
Somente lamentos na lembrança.
Tu, crepúsculo quadragenário!
Não sei quem aqui te convidou.
Fim de minha vida antecipaste.
Termo és de quem somente amou.