Osamu Dazai
Um dia, há seis anos, um arco-íris delicado e esmaecido desenhou-se no meu peito, e muito embora não se tratasse nem de amor nem de bem-querer, à medida que passavam os meses e os anos, esse arco-íris foi carregando as suas cores com grande beleza, e, até agora, jamais o perdi de vista. O arco-íris que surge no céu limpo depois de uma chuva tem existência efêmera e logo se apaga, mas o que nasce no coração da gente parece que não. Por favor, peço-lhe que o interpele. O que acha realmente de mim? Será que me tem em conta de um arco-íris depois da chuva? Que se apagou já há muito tempo?
Se assim for, eu também tenho que apagar o meu arco-íris. Mas sinto que ele não quer sumir-se antes de eu mesma terminar com minha vida.
O sentimento de alegria talvez seja como um grão de ouro cintilando palidamente no fundo de um rio de tristeza.
Os fracos temem a felicidade. Conseguem aleijar-se até com algodão. Às vezes sentem-se feridos até com a própria felicidade.
Desde que os consiga fazer rir, não importa como, eu ficarei bem. Se tiver sucesso nisso, os seres humanos provavelmente não se importarão muito que eu continue fora das suas vidas. A única coisa que eu preciso de evitar é tornar-me ofensivo aos seus olhos: não serei nada, o vento, o céu.
A minha infelicidade era a infelicidade de uma pessoa que não era capaz de dizer não.
Mas a felicidade é ser capaz de ter esperança, ainda que fraca, na felicidade. Assim, pelo menos, temos que acreditar, se queremos viver no mundo de hoje.
Acreditava que a vida na prisão talvez fosse mais agradável do que viver gemendo em minhas infernais noites de insônia por temer aquilo que os seres humanos chamavam de "vida real".
Sua expressão não tem nem, digamos, o peso do sangue, nem a austeridade da vida, nada, nem um pouco dessa sensação de completude.
O receio de que a minha noção de felicidade estivesse totalmente em desacordo com a noção de felicidade do resto das pessoas fazia com que, noite após noite, eu me revirasse de um lado para o outro na cama, gemendo, quase a ponto de enlouquecer.
Será que eu era feliz? Desde pequeno eu era chamado frequentemente de pessoa afortunada, ainda que me sentisse sempre no meio do inferno.
Eu temia as pessoas no mais elevado grau, mas mesmo assim não conseguia abandoná-las de modo algum.